BIBLIOLOGIA - O VOCÁBULO "BÍBLIA" E OS NOMES ATRIBUÍDOS A PALAVRA DE DEUS
- MINISTÉRIO RESGATE
- 13 de mar. de 2020
- 9 min de leitura
Atualizado: 21 de mar. de 2020

O Vocábulo "Bíblia"
Este vocábulo não se acha no texto das Sagradas Escrituras. Consta apenas na capa. De onde, pois, vem? Vem do grego, a língua original do Novo Testamento. É derivado do nome que os gregos davam à folha de papiro preparada para a escrita - "biblos". Um rolo de papiro de tamanho pequeno era chamado "biblion" e vários destes eram uma "Bíblia". Portanto, literalmente, a palavra “Bíblia” quer dizer "coleção de livros pequenos". Com a invenção do papel, desapareceram os rolos, e a palavra “biblos” deu origem a "livro", como se vê em biblioteca, bibliografia, bibliófilo etc.
É consenso geral entre os doutores no assunto que o nome Bíblia foi primeiramente aplicado às Sagradas Escrituras por João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, no Século IV. E porque as Escrituras formam uma unidade perfeita, a palavra Bíblia, sendo um plural, como acabamos de ver, passou a ser singular, significando o Livro, isto é, o Livro dos livros; o Livro por excelência. Como Livro divino, a definição canônica da Bíblia é "A revelação de Deus à humanidade". Os nomes mais comuns que a Bíblia dá a si mesma, isto é, os seus nomes canônicos, são: Escrituras (Mt 21.42); Sagradas Escrituras (Rm 1.2); Livro do Senhor (Is 34.16); Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12); Oráculos de Deus (Rm 3.2).
Nomes Atribuídos A Palavra De Deus
a) Bíblia.
A palavra Bíblia, usada com referência às Escrituras Sagradas desde o IV século, é a forma latina da palavra grega Bíblia, plural neutro de Biblion, que por sua vez é diminutivo de Biblos – nome grego para a planta da qual se fazia o papel – papiro. Pelo uso que se fez do papiro é que biblos veio a significar livro e biblion um livro pequeno. Os fenícios se ocupavam grandemente do comércio de papiro, por isso no segundo século a.C. deram o nome de Biblos ao seu principal porto, passando depois à cidade, e conservado até hoje para as suas ruínas. A palavra Biblos encontra-se em Marcos 12.26 como referência a um livro de Velho Testamento, ou a um grupo no plural para designar os livros dos profetas – Daniel 9.2. O plural usado no Velho Testamento passou à Igreja Cristã e as Escrituras são designadas por livros, livros divinos, livros canônicos. O nome Bíblia para o conjunto dos livros sagrados foi usado pela primeira vez por Crisóstomo, no IV século. Alguns pais da Igreja denominaram as Escrituras de Biblioteca Divina.
b) Escrituras.
O Novo Testamento, que ocupa menos da terceira parte do Velho, usa a expressão – Os Escritos ou as Escrituras para os livros do Antigo Testamento, em Mateus 21.42 e João 5.39.
c) Outras Expressões :
A Palavra de Deus (Hb 4.12); A Escritura de Deus (Êx 32.16); As Sagradas Letras (1Tm 3.15); A Escritura da Verdade (Dn 10.21); As Palavras da Vida (Atos 7.38); As Santas Escrituras (Rm 1.2).
d) Nomes figurativos :
Uma luz. "Uma luz para o meu caminho" (Sl 119:105); Um espelho (Tg 1.23); Ouro fino (Sl 19.10); Uma porção de alimento (Jó 23.12); Leite (1Co 3.2); Pão para os famintos (Dt 8.3); Fogo (Jr 23.29); Um martelo (Jr 23.29); Uma espada do Espírito (IOF 6.17).
e) Pentateuco.
Etimologicamente, Pentateuco significa cinco estantes, onde se colocavam os livros e depois, por metonímia, os próprios livros. Pesquisando um pouco mais se tem a impressão de que as estantes eram aqueles pedaços de madeira que sustentavam os rolos, vindo depois a designar os próprios rolos. O termo Pentateuco, de origem grega, significando cinco rolos tem sido usado para os cinco livros de Moisés, enquanto o nome hebraico para estes mesmos livros é Torá. Este vocábulo começou a ser usado para os primeiros cinco livros da Bíblia depois da tradução da Septuaginta. Estes livros constituem a primeira divisão do Cânon Hebraico, que é formado, como é do conhecimento geral, da Lei, dos Profetas e dos Escritos. Eruditos modernos têm usado o termo "Hexateuco" em vez de Pentateuco, por adicionarem aos primeiros livros da Bíblia o livro de Josué, por notarem muita afinidade entre os seis. Nenhuma razão plausível existe para a aceitação desta nova nomenclatura, desde que o termo tem sido usado por críticos que não admitem tenha sido Moisés o autor do Pentateuco.
f) Testamento.
Este vocábulo não se encontra na Bíblia como designação de uma de suas partes. Sabemos que toda a Bíblia se divide em duas partes chamadas Antigo Testamento e Novo Testamento. Contendo a primeira, os escritos elaborados antes de Cristo, a segunda registra o que foi redigido no primeiro século da nossa era. A palavra portuguesa testamento corresponde à palavra hebraica "berith" – aliança, pacto, contrato, e designa aquela aliança que Deus fez com o povo de Israel no Monte Sinai, aliança sancionada com o sangue do sacrifício como vemos em Êxodo 24.1-8; 34.10-28. Sendo esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança (Jr 31.31-34) que deveria ser validada com o sangue de Cristo. (Mt 26.28). Os escritores neotestamentários denominam a primeira aliança de antiga (Hb 8.13), contrapondo-lhe a nova (2Co 3.6,14). Os tradutores da Septuaginta traduziram "berith" para "diatheke", embora não haja perfeita correspondência entre as palavras, desde que berith designa aliança (compromisso bilateral) e diatheke tem o sentido de "última disposição dos próprios bens", "testamento" (compromisso unilateral). Pela figura de linguagem, conhecida como metonímia, as respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contém os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliança. O termo testamento veio até nós através do latim quando a primeira versão latina do Velho Testamento grego traduziu diatheke por testamentum. São Jerônimo revisando esta versão latina manteve a palavra "testamentum", equivalendo ao hebraico "berith" – aliança, concerto, quando a palavra como já foi visto não tinha essa significação no grego. Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para contrato, aliança deveria ser suntheke, por traduzir melhor o hebraico "berith". As denominações Antigo Testamento e Novo Testamento, para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do II século a.D. quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como Escrituras. O cristianismo distinguiu duas etapas na manifestação do dom de Deus à humanidade: A antiga – feita por Deus ao povo de Israel (2Co 3.14); A segunda ou nova designa a união que o próprio Deus, tomando a forma humana, selou com o homem pela oblação de Cristo (2Co 3.6).
g) Torah.
Palavra derivada do verbo Yarah, que no "hifil" significa lançar, jogar (Êx 15.4, 1Sm 20.36) e de modo especial lançar flechas para se conhecer a vontade divina (Js 18.6; 2Rs 13.17). O mesmo verbo é usado no sentido de mostrar com a mão, apontar com o dedo (Gn 46.28; Êx 15.25). A significação fundamental de yarah é, portanto; indicar uma direção. O substantivo cognato tem o sentido bíblico mais corrente: ensinamento, instrução, como se deduz da leitura de Isaías 30.9; 42.4; Mq 4.2; Ml 2.6; Jó 22.22, onde esta palavra aparece. Do estudo desta palavra conclui-se que o termo português "lei" não traduz o vocábulo hebraico em toda a sua extensão. A torah é o ensinamento que inspira bom procedimento em nosso viver.
h) O termo “Palavra”.
No Antigo Testamento, a palavra dãbhãr de Deus é usada por 394 vezes para designar alguma comunicação divina provinda da parte de Deus aos homens, na forma de mandamento, profecia, advertência ou encorajamento. A fórmula usual é “a palavra de Yahweh veio (literalmente, foi) a...”, ainda que algumas vezes a palavra de Deus seja vista como uma visão (Is 2.1; Jr 2.31; 38.21). A palavra de Yahweh é uma extensão da personalidade divina, investida de autoridade, e deve ser ouvida tanto pelos anjos como pelos homens (Sl 103.20; Dt 12.32). A palavra de Deus permanece para sempre (Is 40.8), e uma vez proferida não pode deixar de ser cumprida (Is 55.11). É usada como sinônimo da lei, tôrah, de Deus, em Sl 119, onde a referência é à mensagem escrita e não à mensagem falada da parte de Deus. No Novo Testamento, “palavra” geralmente traduz dois termos gregos, logos e rhema, a primeira é usada supremamente para designar a mensagem do evangelho cristão (Mc 2.2; At 6.2; Gl 6.6), embora a última esteja revestida da mesma significação (Rm 10.8; Ef 6.17; Hb 6.5 etc.). Nos pontos seguintes veremos maiores detalhes.
A Palavra “Rhema”
Rhema Aquilo que é dito, palavra, dito, expressão (Mt 12.36; Mc 9.32). Ameaça (At 6.13). Coisa, objeto, assunto, evento (Mt 18.16; Lc 1.37; 2.15, 19, 51). Nosso Senhor falou sobre a palavra de Deus (na parábola do semeador, Lc 8.11; Mc 7.13; Lc 11.28), porém, nos evangelhos sinópticos Ele sempre usava o plural para indicar a Sua própria mensagem (“minhas palavras”, Mt 24.35 e paralelos; Mc 8.38; Lc 24.44). No quarto evangelho, entretanto, pode-se encontrar o singular com freqüência. Para a Igreja primitiva, a palavra era uma mensagem revelada da parte de Deus em Cristo, que deveria ser pregada, ministrada e obedecida. Era a palavra da vida (Fp 2.16), da verdade (Ef 1.13), da salvação (At 13.26), da reconciliação (2Co 5.19), e da cruz (1Co 1.18).
A Expressão “Logos”
Significado etimológico. Tem um grande número de diferentes significados: sua tradução básica é “palavra”, isto é uma declaração significativa, de onde se desenvolvem seus muitos sentidos “afirmação, declaração, discurso, assunto, doutrina, questão” e, mediante outro tipo de desenvolvimento, “razão, causa, motivo, respeito”. Na Bíblia: palavra (Mt 12.37), dizer a palavra (Mt 8.8), assunto sob discussão, matéria, coisa, ponto, tema (Mt 5.32; Mc 9.10), declaração, asserção, afirmação (Mt 12.32; 15.12). A tradução do logos irá, freqüentemente, variar de acordo com o contexto.
Como termo gramatical significa uma sentença finita, em uma declaração lógica de fatos, definição ou julgamento, e na retórica significa uma declaração de oratória corretamente construída.
Como termo de psicologia e metafísica, foi empregado pela Stoá, seguindo Heráclitos, para significar o poder ou função divina pela qual o universo recebe sua unidade, coerência e significado. Logos spermatikos, palavra seminal que, à semelhança de semente, dá forma à matéria disforme. O homem foi criado de acordo com o mesmo princípio, e em si mesmo se diz possuir um Logos, tanto internamente (logos endiathetos, razão), e que se expressa pela fala externamente (logos prophorikos). O termo é igualmente usado como padrão ou norma mediante a qual o indivíduo pode viver “de conformidade com a natureza”.
Na Septuaginta o termo “Logos” é usado para traduzir a palavra hebraica dãbhãr. A raiz desta palavra significa “aquilo que está por trás” e assim quando é traduzida por palavra, também significa som compreensível; e também pode significar coisa. De acordo com uma característica comum da psicologia dos hebreus, o dãbhãr de um homem é considerado como, em certo sentido, uma extensão de sua personalidade, e, além disso, como algo que possui uma existência substancial toda própria. A palavra de Deus, portanto, é Sua auto-revelação através de Moisés e dos profetas. Também pode ser usada para designar tanto visões isoladas e oráculos como o conteúdo total da revelação inteira, e assim, especialmente o Pentateuco. A palavra possui um poder semelhante ao de Deus, o qual a profere (Is 55.11) e efetua Sua vontade sem qualquer resistência. Por conseguinte o termo pode referir-se à palavra criadora de Deus.
A Palavra Escrita E O Verbo Vivo
A revelação que Deus fez de si mesmo centraliza-se em Jesus Cristo. Ele é o Logos de Deus. Ele é o Verbo Vivo, o Verbo encarnado, que revela o Deus eterno em termos humanos. O título Logos só pode ser encontrado nos escritos joaninos, embora o emprego do termo haja sido relevante na filosofia grega daqueles dias. Alguns têm procurado uma ligação entre a linguagem de João e a dos estóicos, dos primeiros gnósticos, ou dos escritos de Filo de Alexandria. Estudos mais recentes sugerem que João foi influenciado primariamente pelos seus alicerces no Antigo Testamento e na fé cristã. É provável, porém, que tivesse consciência das conotações mais amplas do termo, e que a tivesse empregado deliberadamente, com o propósito de transmitir um significado adicional e especial.
O Logos é identificado com a Palavra de Deus na Criação e também com sua Palavra autorizada (a lei para toda a humanidade). João deixa nossa imaginação atônita quando introduz o Logos eterno, o Criador de todas as coisas, o próprio Deus, como o Verbo que se encarnou a fim de habitar entre a sua criação (Jo 1.1-3,14). "Deus nunca foi visto por alguém. O filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer" (Jo 1.18). O Verbo Vivo tem sido visto, ouvido, tocado, e agora proclamado mediante a Palavra escrita (1Jo 1.1-3). Quando do encerramento do cânon sagrado, o Logos vivo de Deus, o Fiel e Verdadeiro, está em estado de prontidão no Céu, prestes a voltar à Terra como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.11-16).
A suprema revelação de Deus acha-se no seu Filho. Durante muitos séculos, mediante as palavras dos escritores do Antigo Testamento, Deus havia se revelado progressivamente. Tipos, figuras, sombras e prefigurações desdobravam paulatinamente o plano de Deus para a redenção da humanidade (Cl 2.17). Depois, na plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho para revelar o Pai de forma mais perfeita e para executar aquele gracioso plano mediante a sua morte na Cruz (1Co 1.1 7-25; Gl 4.4). Toda a revelação bíblica, antes e depois da Encarnação de Cristo, centraliza-se nEle. As muitas fontes originárias e maneiras da revelação anterior indicavam e prenunciavam a sua vinda à terra como homem. Toda a revelação subseqüente engrandece e explica a sua vinda. A revelação que Deus fez de si mesmo começou pequena e misteriosa, progrediu no decurso do tempo, e chegou ao seu ponto extremo na Encarnação do seu Filho. Jesus é a revelação mais completa de Deus.
Na Pessoa de Jesus Cristo, coincidem entre si a Fonte e o Conteúdo da revelação. Ele não era mais um meio de comunicar a revelação divina, conforme o foram os profetas e apóstolos. Ele mesmo é "o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa" (Hb 1.3). Ele é "o caminho, e a verdade, e a vida"; conhecer a Ele é conhecer também o Pai (Jo 14.6-7). Os profetas diziam: "Veio a mim a Palavra do Senhor", mas Jesus afirmava: "Eu vos digo"! Jesus inverteu o uso do termo "amém", começando assim as suas declarações: "Na verdade [hb. amen], na verdade te digo" (Jo 3.3). Tendo Ele falado, a verdade foi declarada de modo imediato e inquestionável. Cristo é a chave que revela o significado das Escrituras (Lc 24.25-27; Jo 5.39,40; At 17.2,3; 28.23; 2Tm 3.15). Elas testificam dEle e da salvação que Ele outorga mediante a sua morte. O enfoque que as Escrituras dedicam a Cristo não justifica, porém, o abandono irresponsável do texto bíblico nas áreas que parecem ter poucas informações abertamente cristológicas.
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