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BIBLIOLOGIA II - VERSÕES, TRADUÇÕES E REVISÕES



Conceituação


Tradução é simplesmente a transposição de uma composição literária de uma língua para outra. Por exemplo, se a Bíblia fosse transcrita dos originais hebraico e grego para o latim, ou do latim para o português, chamaríamos esse trabalho tradução. Se esses textos traduzidos fossem vertidos de volta para as línguas originais, também chamaríamos isso tradução.


A tradução literal é uma tentativa de expressar, com toda a fidelidade possível e o máximo de exatidão, o sentido das palavras originais do texto que está sendo traduzido. Trata-se de uma transcrição textual, palavra por palavra. O resultado é um texto um tanto rígido.


A transliteração é a versão das letras de um texto em certa língua para as letras correspondentes de outra língua. É claro que uma tradução literal da Bíblia fica sem sentido para uma pessoa de pouca cultura.


Versão, tecnicamente falando é uma tradução da língua original (ou com consulta direta a ela) para outra língua, ainda que comumente se negligencie essa distinção. O segredo para a compreensão é que a versão envolve a língua original de determinado manuscrito


Revisão, ou versão revista, é termo usado para descrever certas traduções, em geral feitas a partir das línguas originais, que foram cuidadosa e sistematicamente revistas, cujo texto foi examinado de forma crítica, com vistas em corrigir erros ou introduzir emendas ou substituições.


Paráfrase é uma tradução "livre" ou "solta". O objetivo é que se traduza a idéia, e não as palavras. Daí que a paráfrase é mais uma interpretação que uma tradução literal do texto. O comentário é simplesmente uma explicação das Escrituras. O exemplo mais antigo desse tipo de trabalho é o “Midrash”, ou comentário judaico do Antigo Testamento.


Versões E Traduções Mais Antigas


As traduções mais antigas apareceram antes do período dos Concílios da Igreja (350 d.C.), abarcando obras como Pentateuco Samaritano, os Targuns Aramaicos, o Talmude, o Midrash e a Septuaginta (LXX).


O Pentateuco Samaritano


Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 187), “o Pentateuco samaritano pode ter-se originado no período de Neemias, em que se reedificou Jerusalém. Não sendo na verdade uma tradução, nem versão, mostra a necessidade do estudo cuidadoso para que se chegue ao verdadeiro texto das Escrituras”. Essa obra foi, de fato, uma porção manuscrita do texto do próprio Pentateuco. Contém os cinco livros de Moisés, tendo sido escrito num tipo paleo-hebraico, muito semelhante ao que se encontrou na pedra moabita, na inscrição de Siloé, nas Cartas de Laquis e em alguns manuscritos bíblicos mais antigos de Qumran. A tradição textual do Pentateuco samaritano é independente do Texto massorético. Não foi descoberto pelos estudiosos cristãos senão em 1616, embora fosse conhecido dos pais da igreja, como Eusébio de Cesaréia e Jerônimo, tendo sido publicado pela primeira vez na obra Poliglota de Paris (1645) e, depois, na Poliglota de Londres (1657).


O manuscrito mais antigo do Pentateuco samaritano data de meados do século XIV e trata-se de um fragmento de um pergaminho o rolo chamado Abisa. O códice do Pentateuco samaritano mais antigo traz uma nota sobre ter sido vendido em 1149-1150 d.C, embora fosse muito mais velho. A Biblioteca Pública de Nova Iorque abriga outro exemplar que data de cerca de 1232. Imediatamente após a descoberta desse exemplar, em 1616, o Pentateuco samaritano foi aclamado como superior ao Texto massorético. No entanto, depois de cuidadoso estudo, foi relegado a posição inferior. Só recentemente esse documento reobteve um pouco de sua antiga importância, ainda que seja considerado até hoje de menor importância do que o texto massorético da lei. Os méritos do texto do Pentateuco samaritano podem ser avaliados pelo fato de apresentar apenas 6 000 variantes em relação ao Texto massorético, e em sua maior parte constituem diferenças ortográficas que se considerariam insignificantes. Há ali a afirmativa de que o monte Gerizim é o centro de adoração, e não a cidade de Jerusalém, com acréscimos aos relatos de Êxodo 20.2-17 e Deuteronômio 5.6-21. (GEISLER; NIX, 1997, p. 188).


Os Targuns


Segundo Norman Geisler e William Nix (1997, p. 188), “há evidências de que os escribas, já nos tempos de Esdras (Ne 8.1-8), estavam escrevendo paráfrases das Escrituras hebraicas em aramaico. Não estavam produzindo traduções, mas textos explicativos da linguagem arcaica da Tora”. Antes do nascimento de Cristo, quase todos os livros do Antigo Testamento tinham suas paráfrases ou interpretações (targuns). Ao longo dos séculos seguintes o targum foi sendo redigido até surgir um texto oficial.


Os mais antigos targuns aramaicos provavelmente foram escritos na Palestina, durante o século II d.C, embora haja evidências de alguns textos amaraicos de um período pré- cristão. Esses textos primitivos, oficiais, do targum, continham a lei e os profetas, embora targuns de épocas posteriores também incluíssem outros escritos do Antigo Testamento.


Durante o século III d.C., surgiu na Babilônia um targum aramaico sobre a Tora. Possivelmente se tratasse de uma versão corrigida de texto palestino antigo; mas também poderia ter-se originado na Babilônia, tendo sido tradicionalmente atribuído a Onquelos (Ongelos), ainda que tal nome provavelmente resultasse de confusão com Áquila.


O Targum de Jônatas ben Uzziel é outro targum babilônico em aramaico, que acompanhava os profetas (os primeiros e os últimos). Data do século IV, sendo uma tradução mais livre do texto que a tradução de Onquelos. Esses targuns eram lidos nas sinagogas: o texto de Onquelos ao lado da Tora, que se liam em sua inteireza; Jônatas era lido ao lado de seleções dos profetas (haphtaroth, pl.). Visto que as demais partes do Antigo Testamento (escritos) não eram lidas nas sinagogas, não se produziu nenhum targum oficial, mas havia cópias não-oficiais usadas pelas pes-soas de modo particular.


Pelos meados do século VII surgiu o Targum do pseudo-Jônatas, sobre o Pentateuco. Trata-se de uma mistura do Targum de Onquelos e alguns textos do Midrash. Outro targum apareceu ao redor do ano 700, o Targum de Jerusalém, do qual sobreviveu apenas um fragmento.


O Talmude


O Talmude basicamente representa as opiniões e as decisões de professores judeus de cerca de 300 a 500 d.C., consistindo em duas principais divisões: o Midrash e a Gemara. A Mishna (repetição, explicação) completou-se perto de 200 d.C., como se fora um digesto – publicação composta de artigos, livros condensados - hebraico de todas as leis orais, desde o tempo de Moisés. Era altamente considerada como a segunda lei, sendo a Tora a primeira. A Gemara (término, finalização) era um comentário ampliado, em aramaico, da Mishna. Foi transmitida em duas tradições: a Gemara palestina (c. 200) e a Gemara babilônica, maior, dotada de mais autoridade (c. 200)


O Midrash


O Midrash (lit., estudo textual) na verdade era uma exposição formal, doutrinária e homilética das Sagradas Escrituras, redigida em hebraico ou em aramaico. De mais ou menos 100 até 300 d.C., esses escritos foram reunidos num corpo textual a que se deu o nome de Halaka (procedimento), que era uma expansão adicional da Tora, e Hagada (declaração, explicação), ou comentários de todo o Antigo Testamento. O Midrash de fato diferia do Targum neste ponto: o Midrash eram comentários, em vez de paráfrases. O Midrash contém algumas das mais antigas hornilias do Antigo Testamento, bem corno alguns provérbios e parábolas, textos usados nas sinagogas.


Septuaginta (LXX)


Bastante conhecida através da sigla LXX, é a mais importante tradução grega do Velho Testamento. Seria interessante pensar por alguns instantes qual a razão de um livro hebraico ser traduzido para o grego numa cidade do Egito? A História nos confirma que Alexandre Magno, com suas extraordinárias conquistas levou o grego a quase todas as partes do mundo conhecido. Sua morte prematura em 323 a.C. fez com que seu império fosse dividido. Cabendo a Ptolomeu I (323-285) governar o Egito, iniciando assim a dinastia dos reis gregos no Egito. Calcula-se que no tempo de Ptolomeu II, a cidade de Alexandria era composta por um terço de judeus. Como era de se esperar esses imigrantes judeus facilmente adotaram a língua dos gregos.


Dias Gomes citando Flávio Josefo, fornece-nos pormenores úteis sobre a origem desta antiga tradução. Eis uma síntese de suas palavras:


Demétrio Palério, bibliotecário de Ptolomeu Filadelfo, trabalhava com extremo cuidado e grande curiosidade para reunir de todas as partes do mundo os livros de mérito e que julgava serem agradáveis ao príncipe. Certo dia o príncipe perguntou-lhe quantos livros já havia na Biblioteca e soube que mais ou menos 200.000. Notificou também ao rei a existência entre os judeus de livros dignos de figurarem na soberba biblioteca, mas dariam muito trabalho traduzi-los para o grego. Acrescentou que este trabalho poderia ser feito porque sua majestade não olhava a gastos. O rei, persuadido pelo ilustre bibliotecário, fez um apelo ao sumo-sacerdote de Jerusalém para que lhe enviasse os livros e pessoas capacitadas para traduzi-los. O pedido foi imediatamente atendido, talvez, porque acompanhando-o havia grande soma de dinheiro e pedras preciosas. Ptolomeu recebeu através de uma carta a seguinte notificação: "Escolhemos, Senhor, seis homens de cada tribo para vos levar as santas leis e esperamos da vossa bondade, quando não tenhais mais necessidade deles, que vos dignareis remetê-los com os que vão em sua companhia." Eleazar. Quando a obra foi acabada (segundo alguns em 72 dias), Demétrio reuniu todos os judeus para que ouvissem a leitura da tradução, na presença dos 72 tradutores. A tradução foi aprovada e Demétrio elogiado por ter concebido um desígnio que lhes era tão vantajoso. (JOSEFO, Flávio. Apud. GOMES, Dias. Bíblia Poliglota Portuguesa, p. 26-28).


Para alguns esta história é lendária, sendo a verdadeira razão para a origem da Septuaginta a seguinte: Havendo em Alexandria muitos judeus que não podiam ler o Velho Testamento no original hebraico, uma tradução em grego lhes foi preparada. Por causa do número de tradutores essa extraordinária tradução se tornou conhecida (um tanto inexatamente) como Septuaginta.


A Septuaginta é comumente designada por LXX. O nome vem do latim Septuaginta, que quer dizer 70. Aristeas, escritor da corte de Ptolomeu Filadelfo, que reinou de 285-246 a.C., escrevendo a seu irmão Filócrates, conta que o referido monarca, por proposta de seu bibliotecário, Demétrio de Falero, solicitou ao sumo sacerdote judaico, Eleazar, que lhe enviasse doutores versados nas Sagradas Escrituras para preparar-lhe uma versão delas, em grego. Ele muito ouvia falar das Escrituras e queria uma versão delas, para enriquecer sua vasta biblioteca, em Alexandria. O sumo sacerdote escolheu 72 eruditos (6 de cada tribo) e enviou-os a Alexandria, os quais completaram a versão em 72 dias. De 72 derivou-se o nome Septuaginta. (Gilberto, Antonio, 1986, p. 84)


A tradução foi feita na ilha de Faros, situada no porto da cidade. Essa Bíblia teve a mais ampla difusão entre as nações, especialmente naquelas onde estavam os judeus da dispersão oriunda do cativeiro. Foi a Septuaginta a primeira tradução completa do Antigo Testamento, do original hebraico. Foi também ela que situou e dividiu os livros por assuntos como os temos hoje: Lei, História, Poesia, Profecia. Não há um só exemplar original da Versão dos Setenta; somente cópias, a mais antiga das quais data de 325 d.C. É ela a mais antiga tradução da Bíblia hebraica. A Septuaginta é usada ainda hoje na Igreja Grega. Sua primeira aparição impressa é a constante da Complutensiana Poliglota publicada em Alcalá, província de Madri, em 1514-1517, e distribuída em 1522 pelo Cardeal Ximenes.


A Versão De Áqüila


A versão de Áqüila, natural de Sínope, cidade do Ponto. É uma tradução puramente literal. Contém só o Antigo Testamento. Foi feita em 138 d.C., no reinado de Adriano. Existe em fragmentos.


A Versão De Teodocião


A versão de Teodocião, natural de Éfeso, coevo de Justino Mártir, que o menciona em seus escritos. Foi feita em 160 d.C., no tempo do Imperador Cômodo. Não é mais que uma revisão dos LXX. Contém só o Antigo Testamento. Teodocião era ebionita.


A Versão De Símaco


A versão de Símaco, feita em 218. Só do Antigo Testamento. Símaco era também ebionita. Existe em fragmentos.


A Héxapla, De Orígenes


A Héxapla, de Orígenes. Não é propriamente uma versão; é obra compendiada. Devido a falhas na tradução da Septuaginta, Orígenes, grande erudito da igreja primitiva, compôs, em Cesaréia, a Héxapla, ou versão de 6 colunas, em 228 d.C.


As seis colunas estão dispostas da direita para a esquerda, assim: 1ª O texto hebraico; 2ª O texto grego traduzido do hebraico; 3ª A versão de Áquila; 4ª A versão de Símaco; 5ª A Septuaginta; 6ª A versão de Teodocião.


Revisões Depois Da Hexapla


Fizeram ainda revisões na Septuaginta Luciano – fez seu trabalho mais ou menos pelo ano 300, pois foi martirizado em 311. Para esta revisão usou manuscritos hebraicos superiores aos usados por Orígenes e Hesíquio – sua revisão se processou na cidade de Alexandria e foi somente aceita no Egito.


Versões Siríacas


É provável que a primeira versão do Novo Testamento tenha sido feita na língua siríaca. Dentre as versões siríacas são dignas de nota as seguintes:


Siríaca Antiga. É uma versão dos quatro Evangelhos, conservada hoje com grandes lacunas nestes dois manuscritos. Embora estes manuscritos fossem copiados no 5º e 4º séculos respectivamente, a forma de texto que eles preservam data do fim do segundo século ou início do terceiro. O texto dos Evangelhos sofreu influências do Diatessaron de Taciano. Seu tipo de texto pertence ao grupo Ocidental.


Versão Peshita. Em siríaco a palavra peshita significa simples, comum, vulgar. Crêem alguns que a tradução foi feita por Rabbula, bispo de Edessa (411-432), cognominado o São Jerônimo da Igreja Síria. Outros afirmam que o autor é desconhecido, mas que a tradução foi feita para que o cristianismo pudesse propagar-se entre aquele povo. Por ser um trabalho muito bem feito, foi chamada "a rainha das versões". Contém todo o Velho Testamento sem os livros apócrifos. Do Novo Testamento não foram traduzidos II e III João, II Pedro, Judas e Apocalipse. Mais de 350 manuscritos da Peshita são conhecidos hoje, diversos dos quais datam do 5º e 6º séculos.


Versão Filoxênia. Esta é outra tradução bastante difícil de ser explicada pela Crítica Textual. Crê-se que Filóxeno, bispo de Mabugue, comissionou a tradução da Bíblia inteira baseada no grego, em 508 a.D.


Versão Siríaca da Palestina. É conhecida principalmente por um dicionário dos Evangelhos. Crêem os entendidos que seja uma tradução do quinto século.

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