BIBLIOLOGIA II - TRADUÇÕES E VERSÕES CASTELHANAS E PORTUGUESAS (CONTINUAÇÃO)
- MINISTÉRIO RESGATE
- 24 de mar. de 2020
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Edição Trinitária De 1883
Tão logo se fundou a Trinitarian Bible Society, em Londres, cuidou de verter o Livro Santo em vários idiomas, inclusive em português, que saiu a lume em 1883. Esta primeira edição da Trinitária é muito disputada pelos adventistas da fala portuguesa, ao ponto de se pagarem somas fabulosas por um exemplar, hoje raríssimo. E por quê? Porque ela registra assim Lc 23.43: 'E Jesus lhe disse: Na verdade te digo hoje, que estarás comigo no Paraíso'. E Ap 22.14: 'Bem-aventurados aqueles que guardam os seus Mandamentos, para que tenham acesso à árvore da vida, e para que entrem na cidade pelas portas'. E assim Jo 3.4: '... pecado é quebrantamento da Lei'. Estes três textos, assim traduzidos, casam-se maravilhosamente com certos aspectos da doutrina adventista. Também Is 42.21: '... engrandecerá Ele a Lei, e a fará ilustre'.
Entretanto, tirando esta aparente vantagem para os adventistas, a tradução, nos demais, do ponto de vista técnico e diante de novas descobertas da Crítica Textual, deixa muito a desejar, não é recomendável como um todo. A crítica especialmente aponta-lhe sérios deslizes tradutórios no Velho Testamento, principalmente em alguns Salmos. A parte do Novo Testamento baseou-se no texto Receptus de 1624, que não é bom, e foi superado pelo trabalho de Tischendorf e posteriormente por Westcott and Hort, pelos papiros de Beatty, e mais recentemente pelo famoso e atualíssimo texto de Ebberard Nestle. Ora, os textos gregos modernos estão livres de interrupções e imperfeições dos textos antigos, pois o trabalho da Crítica Textual consiste em restaurar, tanto quanto possível o texto original.
O português desta primeira edição da Trinitária é simplesmente horroroso, arcaicíssimo e deselegante. É freqüente o emprego de termos obsoletos e desusados, como, 'capros' (Lv 16.8), 'hum', 'humo' (em vários passos), 'olíbano' (Is 66.3), 'graça' (Sl 1.4)... e, sobretudo a inadmissível grafia dos verbos no futuro ('virão', por exemplo).
Cacófatos dos piores encontram-se, por exemplo, em 2Sm 1.3; Gn 25.30; Ez 45.24; 46.11; Sl 102.6; Is 62.8; 2Co 11.33; Hb 11.27. E um verbo de sentido chulo em Lc 2.6 e 7. A Versão Trinitária em 1883 jamais é referida pelos eruditos, que a consideram destituída de valor crítico.
Trinitária Revisada
Circula em Portugal, há algum tempo, uma edição revista da Trinitária, com a linguagem melhorada e atualizada, de acordo com a reforma ortográfica oficializada pela Academia de Ciências de Lisboa. Mas não melhorou o conteúdo, e foram 153 Faculdade e Seminário Teológico Nacional Ensino à Distância alteradas certas redações, inclusive de Lc 23.43, que agora está como as demais versões: "na verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso". E ainda conserva boa parte dos cacófatos, e incorreções tradutórias. Os próprios evangélicos brasileiros não a apreciam.
Traduções Parciais Da Bíblia No Brasil
Nazaré. Em 1847 publicou-se, em São Luís do Maranhão, O Novo Testamento traduzido por frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, que se baseou na Vulgata. Este foi, portanto, o primeiro texto bíblico traduzido no Brasil. Essa tradução tornou-se famosa por trazer em seu prefácio pesadas acusações contra as “Bíblias protestantes”, que, segundo os acusadores, estariam “falsificadas” e falavam “contra Jesus Cristo e contra tudo quanto há de bom”. Em 1879, a Sociedade de Literatura Religiosa e Moral do Rio de Janeiro publicou a que ficou conhecida como “A Primeira Edição Brasileira” do Novo Testamento de Almeida. Essa versão foi revista por José Manoel Garcia, lente (professor de escola superior ou secundária) do Colégio D. Pedro II; pelo pastor M. P. B. de Carvalhosa, de Campos, RJ, e pelo primeiro agente da Sociedade Bíblica Americana no Brasil, pastor Alexandre Blackford, ministro do Evangelho no Rio de Janeiro.
“Harpa de Israel” foi o título que o notável hebraísta F. R. dos Santos Saraiva deu à sua tradução do Livro dos Salmos, publicada em 1898.
Em 1909, o padre Santana publicou sua tradução do Evangelho de Mateus, vertida diretamente do grego. Três anos depois Basílio Teles publicou a tradução do Livro de Jó, com sangrias poéticas. Em 1917 foi a vez de J. L. Assunção publicar O Novo Testamento, tradução baseada na Vulgata Latina.
Traduzido do velho idioma etíope por Esteves Pereira, O Livro de Amós surgiu isoladamente no Brasil em 1917. Seis anos depois, J. Basílio Pereira publicou a tradução do Novo Testamento e do Livro dos Salmos, ambos baseados na Vulgata. Por essa época surgiu no Brasil (infelizmente, sem indicação de data) a Lei de Moisés (O Pentateuco), edição bilíngüe hebraico-português, preparada pelo rabino Meir Masiah Melamed.
O padre Huberto Rohden foi o primeiro católico a traduzir no Brasil o Novo Testamento diretamente do grego. Publicada pela instituição católico-romana Cruzada Boa Esperança, em 1930, essa tradução, por estar baseada em textos considerados inferiores, sofreu severas críticas.
Traduções Completas
Em 1902, as sociedades bíblicas empenhadas na disseminação da Bíblia no Brasil patrocinaram nova tradução da Bíblia para o português, baseada em manuscritos melhores que os utilizados por Almeida. A comissão constituída para tal fim, composta de eruditos nas línguas originais e no vernáculo, entre eles o gramático Eduardo Carlos Pereira, fez uso de ortografia correta e vocabulário erudito. Publicado em 1917, esse trabalho ficou conhecido como Tradução Brasileira. Apesar de ainda hoje apreciadíssima por grande número de leitores, essa Bíblia não conseguiu se firmar-se no gosto do grande público.
Coube ao padre Matos Soares realizar a tradução mais popular da Bíblia entre os católicos na atualidade. Publicada em 1930 e baseada na Vulgata, essa tradução possui notas entre parêntesis defendendo os dogmas da Igreja Romana. Por esse motivo recebeu apoio papal em 1932.
Em 1943, as Sociedades Bíblicas Unidas encomendaram a um grupo de hebraístas, helenistas e vernaculistas competentes uma revisão da tradução de Almeida. A comissão melhorou a linguagem, a grafia de nomes próprios e o estilo da Bíblia de Almeida.
Em 1948 organizou-se a Sociedade Bíblica do Brasil, destinada a “Dar a Bíblia à Pátria”. Esta entidade fez duas revisões no texto de Almeida, uma mais aprofundada, que deu origem à Edição Revista e Atualizada no Brasil, e uma menos profunda, que conservou o antigo nome “Corrigida”.
Em 1967, a Imprensa Bíblica Brasileira, criada em 1940, publicou a sua Edição Revisada de Almeida, separada com os textos em hebraico e grego. Essa edição foi posteriormente reeditada com ligeiras modificações.
Mais recentemente, a Sociedade Bíblica do Brasil traduziu e publicou a Bíblia na Linguagem de Hoje (1988). O propósito básico desta tradução tem sido o de apresentar o texto bíblico numa linguagem comum e corrente.
Em 1990, a Editora Vida publicou a sua Edição Contemporânea da Bíblia traduzida por Almeida. Essa edição eliminou arcaísmos e ambigüidades do texto quase tricentenário de Almeida, e preservou, sempre que possível, as excelências do texto que lhe serviu de base.
Enquanto a edição da Bíblia Thompson estava sendo preparada, uma comissão constituída de eruditos em grego, hebraico, aramaico e português, coordenada pelo São. Luiz Sayão trabalhava em uma nova tradução das Escrituras para a língua portuguesa, sob o patrocínio da Sociedade Bíblica Internacional.
São, também, dignas de referência: A Bíblia traduzida pelos monges de Meredsous (1959); A Bíblia de Jerusalém, traduzida pela Escola Bíblica de Jerusalém (padres dominicanos), e editada no Brasil por Edições Paulinas em 1981, com notas, e a Edição Integral da Bíblia, trabalho de diversos tradutores sob a coordenação de Ludovico Garmus, editado por Editora Vozes e pelo Círculo do Livro, também com notas.
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