BIBLIOLOGIA II - ERROS NO TEXTO, CRÍTICA TEXTUAL E TEXTO RECEPTUS - II
- MINISTÉRIO RESGATE
- 24 de mar. de 2020
- 13 min de leitura

O Textus Receptus - Seus Defensores E Opositores
Recebe o nome de "Textus Receptus" o texto grego que dominou, no campo do estudo do Novo Testamento por mais de 300 anos. Este texto é também conhecido pelos nomes de Texto Recebido ou Texto Grego Vulgarizado.
No início do século XVI dois grandes eruditos – o Cardeal Ximenes e Erasmo – lançaram-se à enorme tarefa de publicar o Novo Testamento em grego, procurando unificar os vários textos gregos existentes.
Para a boa compreensão da história do "Textus Receptus" é preciso partir do famoso editor francês Roberto Estéfano (1503-1559), que publicou quatro edições do texto grego. Sua terceira edição (1549) é o primeiro texto onde aparece um aparato crítico. Foi esta edição que se tornou o modelo para a King James Version de 1611 e até o século XIX foi o paradigma de todos os textos gregos publicados. A sua quarta edição (1551) não pode ser esquecida na história do texto bíblico, porque pela primeira vez aparece a divisão em versos numerados. Embora a expressão "Textus Receptus" se refira à terceira edição de Estéfano, esta não foi usada por ele.
Outro nome intimamente ligado com o "Textus Receptus" é o de Teodoro Beza (1519- 1605), que entre 1565 e 1604 publicou nove textos bíblicos. O texto de Beza pouco difere da quarta edição de Estéfano. A importância do seu trabalho consiste no seguinte: suas edições visavam popularizar o "Textus Receptus". Os tradutores de King James fizeram largo uso das edições de Beza. Em 1624, os irmãos Elzevirs, impressores alemães, lançaram uma edição do Novo Testamento Grego, em cujo texto predominava o de Estéfano, mas havia também um pouco do texto de Beza. No prefácio da segunda edição se encontravam as seguintes palavras: "No texto que é agora recebido por todos, não apresentamos nada mudado ou alterado." A expressão "Textus Receptus" nasceu desta mesma frase em latim: "Textum ergo habes, nunc ab omnibus receptum: in quo nihil immutatum aut corruptum damus." Os autores desta simples frase jamais sonhariam que ela fosse o início de uma grande contenda na história do texto bíblico.
Edições Posteriores Ao "Textus Receptus" – Edições Críticas
O próximo estágio na história da Crítica Textual do Novo Testamento é caracterizado por constantes esforços para reunir manuscritos gregos, versões e citações patrísticas, que diferissem do "Textus Receptus". Por quase dois séculos, eruditos atacaram as bibliotecas e museus da Europa e Oriente Médio, procurando provas para o texto do Novo Testamento. Durante este período, estudiosos publicaram Novos Testamentos baseados em melhores manuscritos, Brian Walton, que publicou a grande Bíblia Poliglota (1657) baseada no exame de 16 manuscritos. John Mill, também de Oxford, trabalhou 30 anos no preparo de sua edição de 1707, baseando-se em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Bentley, empregando em vários lugares pessoas capazes para confrontarem manuscritos e versões, reuniu material para uma definitiva edição que suplantasse o "Textus Receptus", mas, infelizmente, por questões alheias à sua vontade, não chegou a completar sua edição do Novo Testamento.
Entre os colaboradores de Bentley estava J. J. Wettstein de Basiléia, que após quarenta anos de pesquisas publicou em Amsterdam (1751) uma edição do Novo Testamento. Sua obra tem grande valor até hoje, não apenas pelas notas marginais e os seus prolegômenos (prefácio longo a uma obra científica), mas também pelo aparato crítico, onde pela primeira vez os manuscritos unciais são indicados pelas letras maiúsculas e os manuscritos minúsculos pelos números arábicos. Pertencem ainda a esta fase Semler (1725-1791) e Bengel (1687-1752), que individualmente publicaram uma edição do Novo Testamento Grego. Estes Novos Testamentos estavam baseados em manuscritos diferentes daqueles que foram usados para o "Textus Receptus". Contudo eles divergiram daquele texto e os apresentados por eles poucas variantes apresentavam relacionadas com o texto consagrado.
Declínio Do "Textus Receptus"
O primeiro erudito a se opor frontalmente ao "Textus Receptus" foi o alemão Karl Lachmann (1793-1851). Seu objetivo ao editar o Novo Testamento não era reproduzir o texto original, pois ele cria ser isso uma tarefa impossível, mas procurar reconstruir o texto corrente no fim do IV século. Para isso usou manuscritos unciais primitivos, versões latinas, a Vulgata de São Jerônimo e o testemunho de alguns Pais da Igreja. Após cinco anos de trabalho, publicou em Berlim (1831) uma edição do texto grego, com uma lista de passagens nas quais diferia do texto dos irmãos Elzevirs. Por esta divergência foi duramente atacado. No prefácio de sua segunda edição Lachmann atacou seus críticos por preferirem, cegamente, um texto familiar, mas inferior, a um primitivo muito mais exato. Seu valor está em chamar a atenção dos estudiosos para a conveniência de aceitarem um texto superior e não se contentarem com aquele, tradicionalmente conhecido e aceito por todos.
Constantino Tischendorf
Ninguém conseguiu fazer mais pelo texto bíblico do que este autor. Quando estudava teologia, seu professor de grego, Winer (autor de uma famosa gramática) despertou nele um desejo profundo para pesquisar manuscritos antigos, a fim de reconstruir a mais perfeita forma do Novo Testamento Grego. Com este objetivo em mente, dedicouse de corpo e alma a esta sublime tarefa, pois escrevendo à sua noiva ele declarou: "Resolvi dedicar-me a uma tarefa sagrada – a luta para conseguir a forma original do Novo Testamento”. Sem receio de contestação pode-se afirmar que ninguém fez mais do que Tischendorf para restaurar o texto original grego. Basta ter em mente que foi a pessoa que publicou mais manuscritos e produziu mais edições críticas da Bíblia Grega.
Entre 1941 e 1842 ele preparou oito edições do Novo Testamento Grego. A edição mais importante é a oitava, publicada em dois volumes, acompanhada por um rico Aparato Crítico, no qual Tischendorf reunia tudo sobre variantes textuais que ele ou seus predecessores tinham achado em manuscritos, versões e Pais da Igreja. Em virtude do grande esforço despendido, seu estado de saúde não lhe permitiu continuar o trabalho, por isso sua obra foi completada por seu discípulo – Gaspar Renê Gregory. O texto de sua oitava edição, de acordo com Nestle difere da sétima em 3.572 lugares. Foi acusado de dar excessivo valor à evidência do Códice Sinaítico, que ele tinha descoberto entre o lançamento da sétima e da oitava edição. Tischendorf deixou de lado o "Textus Receptus", não levando também em conta a classificação dos manuscritos em famílias.
Samuel Tregelles
Na Inglaterra, o intelectual mais bem sucedido em afastar-se do "Textus Receptus" foi Samuel Tregelles. Desde menino, demonstrando grande talento e curiosidade intelectual, já fazia planos para uma nova edição crítica do Novo Testamento. No intervalo de 1857 e 1872 publicou um texto grego equipado com o mais completo aparato de variantes das versões que já aparecera. Dotado de extraordinária força de vontade, Tregelles conseguiu vencer a pobreza, a oposição e a saúde precária, apresentando notável trabalho no terreno da Crítica Textual. Sua dedicação ao trabalho era um ato de adoração, pois no prefácio de sua obra declarou "na crença total de que esta deve ser para o serviço de Deus e para ser útil à Sua Igreja”.
Westcott E Hort
Estes dois intelectuais ingleses, após um dedicado trabalho de 28 anos publicaram dois volumes: O Novo Testamento no Original Grego com Introdução e Apêndice, onde os princípios críticos seguidos por ele são minuciosamente expostos. Depois de exaustivas pesquisas na procura de manuscritos antigos, os estudiosos desejaram classificá-los em grupos, assim várias tentativas foram feitas, mas quase todas infrutíferas quanto aos seus resultados. Coube a B. F. Westcott e F. J. A. Hort, dois renomados professores da Universidade de Cambridge, a classificação dos manuscritos do Novo Testamento em quatro famílias, por eles denominadas: Siríaca, Ocidental, Alexandrina e Neutra.
Para eles a mais importante destas famílias era a neutra, por estar mais próxima dos autógrafos e por contar com os dois mais famosos códices unciais – Sinaítico e Vaticano. A preferência de Westcott e Hort por esta família é partilhada por insignes vultos da Crítica Textual, mas, estudos posteriores têm indicado que eles foram otimistas demais quanto à pureza do texto neutro. Pode-se notar ainda que o texto Alexandrino não é distinto do texto neutro, por isso, hoje, aparece como Alexandrino.
A Defesa Do "Textus Receptus"
Os defensores deste discutido texto tornaram-se tão fanáticos, que não admitiam que ele fosse alterado ou melhorado. Aqueles que ousaram divergir foram tachados de irreverentes e sacrílegos. Sendo que Westcott e Hort rejeitaram totalmente o texto tradicional, suas idéias não foram bem aceitas pelos conservadores. Em breve, intelectuais se levantaram como denodados paladinos do texto aceito por todos durante 300 anos. Dentre esses defensores destacam-se Scrivener, Edward Miller e John Burgon. O argumento principal destes estudiosos em defesa do "Textus Receptus" era este: "Se as palavras da Escritura tinham sido ditadas pela inspiração do Espírito Santo, Deus não teria permitido que elas fossem corrompidas no decurso de sua transmissão." Os argumentos apresentados em defesa do "texto recebido" não tiveram a ressonância que eles esperavam e após a morte deles esta polêmica foi para sempre encerrada.
Herman Von Soden: (1852-1913)
Graças ao apoio financeiro da Sra. Elise Koenigs, Von Soden, professor em Berlim, pôde enviar muitos estudantes que tinham sido treinados por ele para examinarem manuscritos nas bibliotecas e museus da Europa e do Oriente Médio. Ele identificou três grupos de manuscritos, designando-os pelas letras gregas K, H, I. Estas letras são inicias das seguintes palavras: K de koinê – comum H de Hesíquio e I de Siríaco de W. H.; O H incluiria o Neutro e o Alexandrino de W. H., enquanto o I equivaleria ao Ocidental dos dois professores da Universidade da Universidade de Cambridge. Discordando da classificação dos manuscritos em unciais e minúsculos e do agrupamento em famílias de W. H. idealizou nova classificação que indicasse a idade, conteúdo e tipo de cada manuscrito. Por ser um trabalho complexo, difícil de ser aceito na prática, redundou num grande desapontamento para a Crítica Textual, por isso foi totalmente posto de lado. Como resultado de suas pesquisas e de seus muitos auxiliares, Von Soden publicou a História do Texto Bíblico em 2.203 páginas de seus prolegômenos. Este trabalho, resultado de prolongada investigação e intensivo estudo, tem sido descrito como um magnífico fracasso.
Bernard Weiss (1827-1918)
Enquanto professor de Exegese Grega, em Berlim, editou o Novo Testamento em três volumes. Sendo um profundo exegeta tratou com eficiência de problemas teológicos e literários do texto do Novo Testamento. Seu trabalho se caracteriza pela valorização das evidências internas, discordando assim de Westcott e Hort, que se apoiavam em evidências externas, concordando, porém, com eles em classificar o manuscrito Vaticano como o melhor. Weiss discorda também dos defensores da teoria genealógica na classificação dos manuscritos bíblicos.
Eberhard Nestle (1851-1913)
A edição do Novo Testamento Grego mais amplamente usada foi preparada por Nestle, através da Sociedade Bíblica de Stutgart (1898). Seu texto é baseado em uma comparação dos textos editados por Tischendorf, Westcott e Hort e Weiss. A obra de Nestle representa o aperfeiçoamento do texto do fim do século XIX. Sendo notável pela síntese maravilhosa do Aparato Crítico e pela precisão da grande soma de informações textuais, sua edição tem sido muito apreciada. Uma nova edição do Novo Testamento Grego de Nestle foi planejada, quando a Sociedade Bíblica Britânica comemorou seu sesquicentenário (1954). O texto foi preparado por Kilpatrick, com a ajuda de Erwin Nestle e Kurt Aland (Londres – 1958). Houve mudanças numas 20 passagens e diversas alterações na ortografia, acentuação e no uso de parênteses
Nova Edição Para Os Tradutores Da Bíblia
Em 1966, após uma década de trabalho por uma Comissão Internacional, cinco Sociedades Bíblicas publicaram uma edição do Novo Testamento Grego com a finalidade de ser usada pelos tradutores da Bíblia.
As edições do Novo Testamento Grego, aqui apresentadas, são as mais importantes, mas o seu número exato desde 1514 até nossos dias é difícil de ser avaliado. Bruce, cuja autoridade em problemas de crítica textual ninguém discute, calcula que mais de mil edições já apareceram.
Apêndice
O Valor religioso da Bíblia. Bíblia é, sem dúvida, um dos mais apreciados legados literários da humanidade. Contudo o seu valor não se firma de maneira substancial no fato literário. A riqueza da Bíblia consiste no caráter essencialmente religioso da sua mensagem, que a transforma no livro sagrado por excelência, tanto para o povo de Israel quanto para a Igreja cristã. Nessa coleção de livros, a Lei se apresenta como uma ordenação divina (Êx 20; Sl 119), os Profetas têm a consciência de serem portadores de mensagens da parte de Deus (Is 6; Jr 1.2; Ez 2-3) o os Escritos ensinam que a verdadeira sabedoria encontra em Deus a sua origem (Pv 8.22-31).
Esses valores religiosos aparecem não só no título de Sagradas Escrituras, mas também na forma que Jesus e, em geral, os autores do Novo Testamento se referem ao Antigo, isto é, aos textos bíblicos escritos em épocas precedentes. Isso ocorre, por exemplo, quando lemos que Deus fala por meio dos profetas ou por meio de algum dos outros livros (Mt 1.22; 2.15; Rm 1.2; 1 Co 9.9) ou quando os profetas aparecem como aquelas pessoas mediante as quais “se diz” algo ou “se anuncia” algum acontecimento, forma hebraica de expressar que é o próprio Deus quem diz ou anuncia (Mt 2.17; 3.3; 4.14); também quando se afirma a permanente autoridade das Escrituras (Mt 5.17-18; Jo 10.35; At 23.5), ou quando as relaciona especialmente com a ação do Espírito Santo (At 1.16; 28.25). Formas magistrais de expressar a convicção comum a todos os cristãos em relação ao valor das Escrituras são encontradas em passagens como 2Tm 3.15-17 e 2Pe 1.19-21.
A Igreja cristã, desde as suas origens, tem descoberto na mensagem do evangelho o mesmo valor da palavra de Deus e a mesma autoridade do Antigo Testamento (Mc 16.15-16; Lc 1.1-4; Jo 20.31; 1 Ts 2.13), Por isso, em 2 Pe 3.16, se equiparam as epístolas de “nosso amado irmão Paulo” (v.15) às “demais Escrituras”. Gradativamente, a partir do século II d.C., foram sendo reconhecidos os 27 livros que formam o Novo Testamento a sua categoria de livros sagrados e, em conseqüência, a plenitude da sua autoridade definitiva e o seu valor religioso.
Tal reconhecimento, que implica o próprio tempo da presença, direção e inspiração do Espírito Santo na formação das Escrituras, não descarta, em absoluto, a atividade física e criativa das pessoas que redigiram os textos. Elas mesmas se referem a essa atividade em diversas ocasiões (Ec 1.13; Lc 1.1-4; 1 Co 15.1-3,11; Gl 6.11). A presença de numerosos autores materiais é, precisamente, a causa da extraordinária riqueza de línguas, estilos, gêneros literários, conceitos culturais o reflexões teológicas que caracterizam a Bíblia.
A natureza da Palavra de Deus. A expressão “a palavra de Deus” (também “a palavra do Senhor”, ou simplesmente “a palavra”) possui várias aplicações na Bíblia. Obviamente, refere-se, em primeiro lugar, a tudo quanto Deus tem falado diretamente. Quando Deus falou a Adão e Eva (Gn 2.16,17; Gn 3.9-19), o que Ele lhes disse era, de fato, a palavra de Deus. De modo semelhante, Ele se dirigiu a Abraão (Gn 12.1-3), a Isaque (Gn 26.1-5), a Jacó (Gn 28.13-15) e a Moisés (Êx 3– 4). Deus também falou à totalidade da nação de Israel, no monte Sinai, ao proclamar-lhe os dez mandamentos (Êx 20.1-19). As palavras que os israelitas ouviram eram palavras de Deus.
Além da fala direta, Deus ainda falou através dos profetas. Quando eles se dirigiam ao povo de Deus, assim introduziam as suas declarações: “Assim diz o Senhor”, ou “Veio a mim a palavra do Senhor”. Quando, portanto, os israelitas ouviam as palavras do profeta, ouviam, na verdade, a palavra de Deus.
A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1 Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1 Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do AT, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20, 22, 23, 32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1 Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia (At 3.22; Rm 10.5,19; Hb 3.7; 4.7); pois o que estava escrito na Bíblia era, sem dúvida alguma, a palavra de Deus. Mesmo não estando no mesmo nível das Escrituras, a proclamação feita pelos autênticos pregadores ou profetas, na igreja de hoje, pode ser chamada a palavra de Deus. Pedro indicou que, a palavra que seus leitores recebiam mediante a pregação, era palavra de Deus (1 Pe 1.25), e Paulo mandou Timóteo “pregar a Palavra” (2 Tm 4.2). A pregação, porém, não pode existir independentemente da Palavra de Deus. Na realidade, o teste para se determinar se a palavra de Deus está sendo proclamada num sermão, ou mensagem, é se ela corresponde exatamente à Palavra de Deus escrita.
O que se diz de uma pessoa que recebe uma profecia, ou revelação, no âmbito do culto de adoração (1 Co 14.26-32)? Ela está recebendo, ou não, a palavra de Deus? A resposta é um “sim”. Paulo assevera que semelhantes mensagens estão sujeitas à avaliação por outros profetas. Todavia, há a possibilidade de tais profecias não serem palavra de Deus (1 Co 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem”).
É somente em sentido secundário que os profetas, hoje, falam sob a inspiração do Espírito Santo; sua revelação jamais deve ser elevada à categoria da inerrância (1 Co 14.3).
O Poder da Palavra de Deus. A palavra de Deus permanece firme nos céus (Sl 119.89; Is 40.8; 1 Pe 1.24,25). Não é, porém, estática; é A mesma coisa pode ser dita a respeito do que os apóstolos falaram no Novo Testamento. Embora não introduzissem suas palavras com a expressão “assim diz o Senhor”, o que falavam e proclamavam era, verdadeiramente, a palavra de Deus. O sermão de Paulo ao povo de Antioquia da Pisídia (At 13.14-41), por exemplo, criou tamanha comoção que, “no sábado seguinte, ajuntou-se quase toda a cidade a ouvir a palavra de Deus” (At 176 Faculdade e Seminário Teológico Nacional Ensino à Distância 13.44). O próprio Paulo assegurou aos Tessalonicenses que, “havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1 Ts 2.13; At 8.25).
Além disso, tudo quanto Jesus falava era palavra de Deus, pois Ele, antes de tudo, é Deus (Jo 1.1,18; 10.30; 1 Jo 5.20). Lucas, escritor do terceiro evangelho, declara explicitamente que, quando as pessoas ouviam a Jesus, ouviam na verdade a palavra de Deus (Lc 5.1). Note como, em contraste com os profetas do Antigo Testamento, Jesus introduzia seus ditos: Eu “vos digo...” (Mt 5.18,20, 22, 23, 32,39; 11.22,24; Mc 9.1; 10.15; Lc 10.12; 12.4; Jo 5.19; 6.26; 8.34). Noutras palavras, Ele tinha dentro de si mesmo a autoridade divina para falar a palavra de Deus. É tão importante ouvir as palavras de Jesus, pois “quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação” (Jo 5.24). Jesus, na realidade, está tão estreitamente identificado com a palavra de Deus que é chamado “o Verbo” [“a Palavra”] (Jo 1.1,14; 1 Jo 1.1; Ap 19.13-16; Jo 1.1). A palavra de Deus é o registro do que os profetas, apóstolos e Jesus falaram, isto é, a própria Bíblia. No Novo Testamento, quer um escritor usasse a expressão “Moisés disse”, “Davi disse”, “o Espírito Santo diz”, ou “Deus diz”, nenhuma diferença fazia da palavra de Deus.
A palavra de Deus é a arma que o Senhor nos proveu para lutarmos contra Satanás (Ef 6.17; Ap 19.13-15). Jesus derrotou Satanás, pois fazia uso da Palavra de Deus: “Está escrito” (“consta como a Palavra infalível de Deus”; Lc 4.1-11; Mt 4.1-11).
Finalmente, a palavra de Deus tem o poder de nos julgar. Os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo Testamento freqüentemente pronunciavam palavras de juízo recebidas do Senhor. O próprio Jesus assegurou que a sua palavra condenará os que o rejeitarem (Jo 12.48). E o autor aos Hebreus escreve que a poderosa palavra de Deus julga “os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12). Noutras palavras: os que optam por desconsiderar a palavra de Deus acabarão por experimentá-la como palavra de condenação.
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