MISSÃO URBANA - AS CIDADES NA BÍBLIA
- MINISTÉRIO RESGATE
- 3 de mar. de 2020
- 4 min de leitura

O termo cidade na Bíblia ocorre mais de 1.600 vezes no Antigo Testamento e 160 vezes no Novo Testamento, sem contar as vezes em que nomes de cidades são usados. As primeiras cidades surgiram por volta do ano 3.500 a. C.
A primeira cidade mencionada na Bíblia é a cidade fundada por Caim - “Caim edificou uma cidade e lhe chamou Enoque”. (Gn 4:17). O contexto em que esta cidade é apresentada é muito importante. Caim estava discutindo com Deus sobre o que ele havia feito para com seu irmão e qual seria o julgamento de Deus sobre ele. Caim reclama de que ele não suportaria aquele castigo e Deus, cheio de compaixão em sua graça, permite que Caim não fique em completo desespero, sem nenhuma proteção. Caim ficou contente com a solução divina porque ele não ficou solto num mundo em anarquia total. A ele foi permitido se encontrar com outras pessoas e, inclusive, construir uma cidade. Conseqüentemente a cidade em si não era uma coisa ruim; ela surgiu diretamente da graça de Deus. Kline até argumenta que a construção de cidades era o propósito do “Mandado Cultural”
Se o conceito da cidade não está errado em si próprio, qual é o problema então ? O problema é o uso que foi feito dela pelo homem caído que estragou o propósito da cidade. Quando Caim inaugura a cidade ele a nomeia em homenagem a seu filho chamado Enoque. Desde o recomeço Caim comete o mesmo erro que o levou a matar a seu irmão. Ele estava mais preocupado em edificar seu próprio nome ao invés de dar glórias a Deus por aquilo que Deus havia feito por ele. A narrativa mostra uma situação até pior com o progresso da genealogia. Lameque, um descendente direto de Caim, usa sua autoridade de líder da cidade para quebrar os mandamentos de Deus em relação à família : ele toma para si duas esposas. Como se isto não bastasse, ele também abusa da sua autoridade e estabelece leis opressivas para lidar com aqueles que não concorda com ele. As palavras de Lameque às suas esposas, claramente demonstram sua rebelião contra Deus : “Sete vezes se tornará vingança de Caim, de Lameque, porém, 70 vezes sete” (Gn 4:24). Isto é uma perversão do propósito divino para o estado.
Como Kline diz, também a cidade se torna o Templo do homem. Lameque, em suas próprias palavras está tentando ser como Deus.
Na área do mandato social, a evidência da desobediência e rebelião tornou-se mais predominante. Lameque casou-se com duas mulheres (Gn 4.19), quebrando a determinação de um macho e uma fêmea tornarem-se uma só carne (Gn 2.24). Ele assassinou um jovem em vingança por ter sido ferido; Lameque, arrogantemente, escarneceu de Deus dizendo que estava preparado para aceitar a vingança divina em um grau muito maior do que a que Caim teve (Gn 4.34). Moisés registrou que como "os homens começaram a crescer em número" (Gn 6.1), a revolta social piorou. A violência tornou-se um modo de vida (Gn 6.11). Casamentos que não honravam a Deus foram escriturados (Gn 6.1-2). Está claramente inferido que, no seu tempo, Noé era o único homem que tinha um casamento e uma família que honravam a Deus (Gn 6.9).
A corrupção espiritual estava integralmente envolvida na deterioração social e violência dentro do domínio social. O mandato de comunhão que o Rei Criador tinha colocado diante dos seus vice gerentes, havia sido desobedecido no Éden. Yahweh tinha feito a restauração se tornar possível. Alguns invocaram e caminharam com Yahweh. Mas, assim como as pessoas cresceram em número, existia mais e mais maldade sobre a terra. A raiz desta maldade estava no coração das pessoas; toda a inclinação do pensamento originada do coração "era somente má todo o tempo" (Gn 6.5). Note que o texto usa o termo "todo" duas vezes e o termo "somente". O grau extremo de depravação espiritual nos é, então, revelado.
A narrativa é interrompida neste ponto e a genealogia de Sete é apresentada, mas logo depois desta o autor volta ao tema da cidade dominada pelo homem. Em Gênesis 6, nós temos a razão porque Deus mandou dilúvio. O abuso de autoridade agora é ainda maior. O número de pessoas aumentou e o número de casamento também, e no versículo 5 nós vemos que a maldade continuava e o desígnio do coração era continuamente mau.
Provavelmente a pior fase desta narrativa é a atitude dos lideres (Gn 6:2). Eles se chamavam a si mesmos Filhos de Deus. Eles falam como se Deus não estivesse no controle e também agem como Deus e tomam as responsabilidades de Deus, como se fossem seus filhos. Deus não poderia mais aguentar esta situação e então Ele os destrói com o dilúvio.
Com o remanescente desta destruição, Noé e sua família, Deus começa aquilo que poderia ser chamado de a “re-criação”. Os paralelos entre a criação original e esta não é somente simbolismo, mas um paralelo nas próprias palavras de Deus. O mesmo caos em água aparece nos dois episódios. Mas o mais imprescindível é que o “Mandado Cultural” é repetido em Gn 9:1. Isto é um sinal claro de um novo começo. Infelizmente é a história do homem tentando tomar outra vez lugar de Deus. O propósito é claro : eles querem uma cidade que engrandeça o nome deles, ao invés de irem, através da Terra, como Deus ordenara (Gn 11:4).
Este estado de apostasia se tornou mais uma vez insuportável para Deus. Entretanto, Ele se mantém fiel a sua Aliança com Noé e não destrói o povo. Deus apenas promove uma confusão na língua deles, de maneira que eles abandonam aquele projeto e fazem aquilo que eles deveriam ter feito desde o começo (Gn 11:6-7).
Como podemos perceber, a Escritura fala amplamente da cidade. Ela é uma realidade com a qual a igreja deve se preocupar. A reflexão cristã sobre a cidade deve ser uma prioridade por parte da igreja. A história, a geografia, a sociologia, o urbanismo, para não mencionar as ciências afins, estudam a cidade. Penso que não seria muito que a teologia também a estudasse.
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