top of page

MISSÃO URBANA / INTRODUÇÃO I




O presente estudo da questão da Missão Urbana trabalha três elementos chaves :


a fundamentação bíblico-teológica,

o conhecimento do processo de urbanização e

as ações propostas para a comunidade local.


É desejável que cada pessoa, em seu ministério específico, aprofunde o estudo aqui iniciado. Para auxiliar esta tarefa, no final do texto, proponho uma indicação bibliográfica.

Ao tratar o tema “Missão Urbana” é imperioso que fique bem claro com que conceito ou visão missionária a gente trabalha. Eu trabalho com a visão da Missão Integral que se caracteriza pela seguinte compreensão :


apresentar,

fundamentar e

sustentar teologicamente a Missão de Deus confiada à Igreja, que consiste em :


anunciar o amor de Deus revelado em Jesus Cristo que abrange :


a salvação das pessoas,

a transformação da sociedade e

a preservação de sua boa criação.


Estudiosos da Missão urbana afirmam que o vocábulo “cidade” ocorre mais de um mil e quatrocentas vezes ao longo da Bíblia. Na maioria delas, cidade é traduzida das palavras IHR do hebraico e PÓLIS do grego. O significado usual do termo nem sempre corresponde a estes dois conceitos. Assim, por exemplo, no AT quando autores se referem a Jerusalém ou Judá, podem designar o povo de Israel, como um todo, não apenas a sua cidade (Is 3.1). No NT, o termo pólis pode ser usado para referir-se, simplesmente, a um pequeno povoado, que nada tem a ver com o conceito grego de cidade-estado : “andava de Jesus de cidade em cidade...”(Lc 8.1). Há, contudo, ao longo da Bíblia, uma espécie de fio condutor que identifica a cidade como centro de onde emanam as ordens que governam um povo. A cidade, a rigor, é vista no AT como sede de governo - centro do poder. Este poder está a serviço da dominação religiosa, militar ou econômica, ou pela conjugação destes. Neste caso, trata-se de um império ou ditadura. O povo de Deus, através de seus profetas, exige um governo justo que promova a paz social e a prosperidade (o shalom de Deus). Esta exigência é reclamada de todas as nações e não se limita, portanto, ao povo de Deus. Com isto fica claro, desde logo, que a tarefa da Missão Urbana não se limita à vida na comunidade mas visa a toda a cidade. Não se restringe, portanto, à vida religiosa. Sonha certamente com a transformação social dentro do melhores padrões da ética, justiça e sustentabilidade.


A PERCEPÇÃO BÍBLICA DA CIDADE


Missiologia são as duas palavras de raiz grega que compõem o termo ‘missiologia’. Logia significa ‘estudo’. Missio significa ‘concernente à missão’. Portanto, dentro de um contexto cristão, com o propósito de equipar-se ao trabalho urbano, escolar ou acadêmico, falar de missiologia é tratar sobre estratégias contextuais de alcance. ‘Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do Poder seja de Deus, e não de nós’ 2 Coríntios 4.7


A partir deste tema, serão analisados os seguintes pontos : Existe algo como uma “Teologia da Cidade” ou : “hermenêutica da cidade”? Os “paradigmas”: Babilônia e Jerusalém. A cidade, vista como Babilônia é o símbolo da violência e da perversão. Seus construtores são : Ninrode - proto-monarca (Gn 10.8-12; Gn 11.1-9). As advertências proféticas contra a monarquia : a Fábula de Jotão (Jz 9.7ss) - crítica ao desejo do povo de escolher um rei guerreiro. A advertência de Samuel para o custo da monarquia (I Sm 8.1ss). 2.1.


A cidade vista como Babilônia, símbolo do poder e da violência No AT, o povo de Deus sente-se, quase permanentemente, ameaçado pelas cidades. Não por qualquer uma nem pela cidade em si mas pelas cidades como centros do poder monárquico, totalitário. Babilônia simboliza esta cidade sanguinária, violenta e perversa. A origem da cidade, tanto na Bíblia como na pesquisa secular, permanece como algo distante na história, nem sempre bem esclarecido. Aqui se trata de olhar a cidade como é apresentada ao longo das Escrituras, onde está vinculada à dominação ou a vontade de exercer o poder governamental. Caim é apresentado como o primeiro construtor de cidade (Gn 4.17). Não há comentários sobre esta.


É provável que tenha servido como refúgio e segurança para o fugitivo Caim. O segundo construtor de cidade é apresentado como um caçador: Ninrode. Curiosamente, o que Ninrode (Gn 10.8-12) caçava não eram animais selvagens (embora todo dominador fosse hábil neste ofício). Na verdade, caçava as riquezas das cidades e povoados vizinhos. Assim, acumulava a fama e fortuna, até tornar-se homem poderoso, uma espécie de proto monarca, fundador das cidades que sediaram os impérios bélicos da antiguidade. Israel sentia-se ameaçada e sofria sob a ação militar destes impérios. A narrativa ou parábola da construção da torre de Babel (Gn 11.1-9) segue a mesma lógica. A torre – migdal no hebraico – é uma fortaleza militar, símbolo da dominação (compare Dt 1.28;9.1).


Os mandantes desta gigantesca obra tinham sonhos imperiais. O povo de Israel, por sua vez, nômade ou seminômade muitas vezes, foi vítima de incursos militares e saques comandados por monarcas urbanos. Por isso, a tradição profética expressa, com veemência, seu repúdio ao Estado Monárquico. A fábula de Jotão (Jz 9.7-15) e a advertência de Samuel (1 Sm 8,1ss) são alertas para o ilimitado poder do Estado Monárquico.


Além disso, o poder político, no passado como agora, vincula-se aos melhores aliados: o exército, a religião, o mercado (a economia) e as alianças entre uns e outros. Um exemplo desta aliança ocorre no julgamento de Jesus. Foi condenado pela cumplicidade da religião (que via seus lucros ameaçados) aliado ao Estado. Nenhum Império, por poderoso que seja, é eterno.


Deus continua sendo o Senhor da história. (A superação da Babilônia ocorrerá com a derrocada do mercado (Ap 18-19) e o triunfo do Rei dos Reis e Senhor dos Senhores – Jesus e a instauração da cidade celeste, a Nova Jerusalém (Ap 21-22)). Assim, ao longo do AT, a cidade, como centro de poder e dominação, é identificada como sendo Babilônia. Simboliza a encarnação da violência, a dominação e a perversidade. Embora seja uma criação humana, fruto da cultura, e não criação de Deus, isto não significa que esteja entregue ao capricho de governantes inescrupulosos. Deus reclama um outro perfil para a cidade.


A cidade como espaço de misericórdia, justiça e paz. Em contraste à cidade dominada pela violência, Jerusalém aparece na Bíblia de duas formas distintas : é a cidade capital espiritual de Israel e, ao mesmo tempo, portadora de um símbolo : simboliza a cidade da justiça e da paz.


É apresentada como a encarnação (idealização) da cidade da compaixão, da misericórdia, da justiça e da paz, cuja origem remonta a Melquisedeque, Rei de Salém, Rei da Justiça que abençoa Abrão (Gn 14.18-20). Historicamente, a cidade de Sião era uma fortaleza militar dos jebuseus, conquistada somente por Davi e transformada em capital espiritual do povo de Deus. (Js 15.63 e 2 Sm 5.6-11) Ao longo do AT, Deus reclama a cidade como espaço de misericórdia. Este tema é expresso através de vários autores sagrados : a oração de Abrão sobre Sodoma (Gn 18,16ss), o tema da superação da violência e da impunidade ressaltado na criação das cidades de refúgio (Nm 35.9-15; Dt 4.41-43;19,1- 3), a desconcertante compaixão de Javé por Nínive que surpreende Jonas e sua moral religiosa (Jonas), a carta de Jeremias aos exilados - uma demonstração de como Javé preza a paz da cidade ( Jr 29), a atitude compassiva de Neemias na reconstrução da Jerusalém arruinada... apenas alguns entre muitos outros exemplos.


Todos destacam que Deus não têm prazer na destruição da cidade violenta mas deseja sua conversão. A culminância do símbolo Jerusalém encontra-se na Nova Jerusalém (Ap 21-22). Nela, reinará a plenitude da vida relacional e ecológica. É o paraíso urbano. Todo tecido social será perpassado pela vida em plenitude.

Comments


  • Instagram
  • YouTube
  • Blogger ícone social
  • w-facebook
  • Twitter Clean

  tomramos727@gmail.com                    CEL 81 983664823

  I.B.R.R - MINISTÉRIO RESGATE ESCOLA DE OBREIROS

bottom of page