HERMENÊUTICA - VALOR DOS EVANGELHOS E A INERRÂNCIA BÍBLICA
- MINISTÉRIO RESGATE
- 26 de mar. de 2020
- 6 min de leitura
Atualizado: 22 de jul. de 2020

Os Evangelhos são livros históricos ? Jesus Cristo viveu realmente ? Disse tudo aquilo que foi escrito ?
Em primeiro lugar, dizemos que os Evangelhos, muito mais do que narrativas de fatos históricos, eles são baseados em fatos históricos, fundamentados no fato histórico da vida e obra de Jesus Cristo. Não se pode provar fato por fato, ou seja, com todas as minúcias. Mas não se pode negar o valor histórico geral dos fatos, por exemplo, que Cristo fez milagres. O modo como os autores escrevem, os costumes, a cultura, as palavras, a mentalidade, corresponde aos das pessoas que viviam naquela época.
Os impostos e as leis, as religiões (saduceus, publicanos, fariseus, zelotes...), as cidades e aldeias da época, a personalidade de Cristo (ás vezes contradizendo o que era comum na época), a originalidade de Jesus, etc, tudo isso forma um conjunto de fatos que seriam quase impossíveis de inventar mais tarde, organizados com tanta coerência e perfeição. Outros fatos que não se concebe terem sido simplesmente inventados, mesmo por pessoas que acreditassem neles: a paixão, a morte e a ressurreição. Hoje a cruz é glória e símbolo, mas na época era a mais humilhante das condenações. A história da paixão seria contraproducente, vergonhosa para quem queria apregoar aquela doutrina. A covardia dos Apóstolos ao abandonarem o Mestre... Estas coisas, decididamente não seriam perpetradas por quem aceitava Cristo. Eles se esforçaram por justificar estes fatos associando com as profecias do AT, muitas vezes apenas por acomodação, por coincidência.
Finalmente, podemos dizer : os Evangelhos não são livros históricos no sentido que se entende esta palavra atualmente, mas seguramente são baseados em acontecimentos históricos. Alguns autores, além dos evangelistas, falaram de Jesus. Flávius Josephus, fariseu, historiador contemporâneo de Jesus, conta detalhes daquele tempo, embora com aspecto tendencioso para a ótica dos fariseus, mas isto era mesmo de se esperar, isto é, que ele não falasse mais de Jesus e de outros movimentos messiânicos, é preciso se notar que em vista da dominação dos romanos, ele foi cauteloso para não assustá-los escrevendo sobre estes movimentos considerados por eles subversivos. Assim, só trataram mais sobre Jesus os que se interessavam por ele (os apóstolos, no caso). Também Tácito, historiador romano, escreveu os Anais no tempo de Trajano (116/117) e fala na execução de Cristo e no surgimento do Cristianismo. Portanto, mesmo outras pessoas que não eram cristãos dão testemunho da vida, paixão e morte de Cristo.
A Questão Da Inerrância Bíblica
Duas posições evangélicas :
1º - A Bíblia é totalmente privada de erros.
2º - A Bíblia é sem erro toda vez que fala sobre salvação e fé, mas pode possuir erros em outros pontos.
“Os liberais, por sua vez, acreditam que a Bíblia é fruto da mente religiosa dos judeus”.
Contextos polêmicos produzem posições extremadas.
Argumentos :
1) - A Bíblia é plena e completamente inspirada.
2) - Inerrante em todas as matérias que toca.
3) - Verbalmente inspirada.
4) - Nenhum erro pode ser afirmado se não puder ser comprovado no texto original.
Pode esta Palavra (Bíblia), ser livre de qualquer erro no seu catógrafo original ? Ela é completamente digna de confiança em matéria de história e doutrina ? Os autores bíblicos sob a liderança do Espírito Santo foram preservados de cometer erro factual, histórico, científico e quaisquer outros erros ?
Observação
Estes pensamentos e perguntas refletem a posição dos inerrantistas, sem que entendemos por inerrância algo que está livre de qualquer erro. Podemos afirmar algumas verdades básicas :
(1) A Bíblia é um livro singular, muito especial, que se diferencia dos demais livros e compêndios da literatura universal.
(2) Não podemos compreender as Escrituras apenas com nossa inteligência humana, a menos que contemos com a força, o poder e em especial a iluminação do Espírito Santo que sonda as profundezas de Deus e esclarece os mistérios da Sua Palavra (João 16:13)
1) - Premissa Maior - Tudo o que Deus faz é perfeito
2) - Premissa Menor - Deus inspirou a Bíblia
3) - Conclusão : - Logo, a Bíblia é perfeita.
Este Argumento É A Base Dos Que Defendem A Inerrância Bíblica :
Analogia: Assim como Jesus foi divino-humano, e nunca cometeu pecado, também a Bíblia é divino-humana e não contêm erro.
Os inerrantistas dizem que negar a inerrância é negar a inspiração e a autoridade da Bíblia.
O Argumento do Dominó : Derrubando a 1a pedra (inerrância bíblica), todas as outras pedras caem.
A primeira pedra seria a inerrância bíblica.
A segunda seria a inspiração.
Derrubando-se estas duas pedras, todas as outras caem.
Exemplos De Dificuldades Na Bíblia
Considere com especial atenção a palavra “dificuldades” empregada neste caso, pois não estamos usando a palavra “erro”
A) - Mat. 27:37 - (Comparar Com Mar. 15:26; Luc. 23:38; João 19:19) :
Mateus - Este é Jesus o Rei dos Judeus.
Marcos - O Rei dos Judeus.
Lucas - Este é o Rei dos Judeus.
João - Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus.
Cada evangelista escreveu inspirado por Deus, mas de sua maneira. Cada um usou o próprio estilo literário.
Ver Mat. 6:9 a 15 com Lucas 11:1 a 4 - (Oração do Pai Nosso).
Na inspiração , a personalidade do profeta é preservada, sua linguagem é preservada, sua maneira de escrever também é preservada.
B) - I Cor. 10:8 Com Núm. 25:9 :
- Paulo disse que haviam morrido 23.000 pessoas
- Moisés disse que haviam morrido 24.000 pessoas.
C) - Levíticos 11:6 :
“A lebre, porque rumina, mas não tem unhas fendidas, esta vos será imunda”.
Obs: A lebre “não rumina”.
Duas Classes De Linguagem :
Em muitas passagens a Bíblia emprega como recurso literário uma linguagem fenomenológica.
Em outros casos os escritores da Bíblia usaram uma Linguagem literal que descreve os fatos como eles realmente são.
Linguagem fenomenológica - descreve os fatos como eles parecem ser.
O importante não é se a lebre rumina ou não, mas o ponto central era se o povo de Israel deveria ou não deve comer a carne da lebre.
Podemos perceber no caso de Coríntios com Números que a questão em pauta arredonda os números, pois, se for fiel ao relato seria impossível ser números exatos, não poderiam ser 23.001 ou 23.999 e Paulo arredondou para a cifra menor ?
D) - Mar. 6:8 Com Luc. 9:3 :
Marcos - Levem um bordão (bengala)
Lucas - Não levem nada, nem bordão.
O fato de levar ou não o bordão, não muda o objetivo de Jesus, que era o fato de eles dependeram inteiramente de Deus. Notamos aqui que há apenas uma divergência de ótica e não um erro de objetivo, seria diferente se Marcos falasse de não ir e Lucas de ir para a ação missionária requerida.
E) - Mat. 26:34 C/ Marc. 14:30 :
“Antes que o galo cante...” = Aqui o autor está sendo em sua argumentação mais genérico.
“Antes que o galo cante, 3 vezes...” = Em contraste aqui outro autor está sendo mais específico.
Um estava sendo mais preciso que o outro, mas isto não muda o sentido fundamental da mensagem que era o fato de que Pedro iria negar a Jesus.
Erro :
Para muitos opositores da Bíblia, quando a ciência erra é apenas um sinônimo de imperfeição, inexatidão, porém... Para estes, quando encontram uma informação científica equivocada na Bíblia então é: sinônimo de engano, fraude.
Os profetas não estavam preocupados com o aspecto científico, histórico, geográfico, etc, mas com uma mensagem espiritual.
A finalidade da Bíblia não é dar informações científicas, históricas ou geográficas, mas uma informação de vida e salvação.
Na Bíblia :
O Verdadeiro Erro é não estar de acordo com a vontade de Deus.
A Verdade Bíblica se expressa unicamente na vontade e Deus.
Os mesmos argumentos servem para :
História Política - A Bíblia não se preocupa com isto.
História Espiritual - A Bíblia se preocupa com esta história. Que conhecemos como Plano de Salvação, que é exatamente a relação correta entre Deus e seu povo e se povo com Deus.
A Bíblia só menciona fatos políticos quando esta tem que ver com a História Espiritual do povo.
Considere com atenção a leitura de João 21:25 – Se um leitor levar em consideração de forma literal este trecho, obviamente acusaria a João de estar dando uma “falsa informação” Todavia o que temos aqui é que conhecemos em literatura como: Exagero poético - Os evangelhos não são uma biografia exata da vida de Jesus.
A explicação para o texto anterior pode ser encontrada na leitura de: João 20:30, 31 - Só se encontram as coisas necessárias à nossa salvação.
Nem tudo que Jesus fez foi escrito.
Os escritos foram fatos selecionados.
A Bíblia Tem Um Duplo Propósito :
Cristológico : Revelar a pessoa de Cristo S. João 5:39 / João 14:6
Soteriológico : Informa ao ser humano os meios providos por Deus para a salvação do homem.
II Tim. 3:15
“Deus fala através das Escrituras não com o propósito de tornar-nos eruditos, mas com o propósito de tornar-nos cristãos”.
Dentro da Bíblia existem coisas secundárias por natureza. Estas coisas contribuem para entender o ponto central, mas não essas narrativas são o ponto central.
O conhecimento que temos acerca de Deus é um conhecimento Parcial.
Consideremos a questão do conhecimento de Deus com esta visão: Jamais poderemos compreender Deus, essa compreensão será sempre parcial, e muitas vezes cometemos o erro de olhar os conceitos desde nossa visão humana, vejamos um exemplo:
Em grego temos duas palavras para o conceito de tempo: “Kronos” e “Kairos” A primeira, “Kronos”, é a visão humana sobre o tempo, a segunda é a visão divina, é a forma como Deus compreende o tempo, por essa razão insistimos em afirmar que nosso tempo não é o mesmo tempo de Deus, e isto se aplica à oração, pedimos para já, conforme nosso tempo, e Deus nos responde sim, de acordo com seu tempo, somente quando o tempo de Deus “Kairos” se cruza com nosso “Kronos” então e só então acontece o milagre.
A Bíblia não contem uma revelação total de Deus, mas uma revelação parcial daquilo que é necessário para a nossa salvação.
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