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HERMENÊUTICA - A FÉ

Atualizado: 22 de jul. de 2020



Devo falar neste capítulo sobre o que os cristãos entendem por fé. Grosso modo, a palavra fé é usada no cristianismo em dois sentidos, ou em dois níveis, e tratarei primeiro de um deles e depois do outro. No primeiro sentido, significa simplesmente a crença - aceitar ou considerar verdadeiras as doutrinas do cristianismo. Isso é bastante simples. O que provoca confusão nas pessoas - pelo menos provocava confusão em mim - é que os cristãos consideram a fé, nesse sentido, uma virtude. Eu queria saber como ela poderia ser uma virtude - o que existe de moral ou imoral em acreditar ou não acreditar num conjunto de princípios? Eu costumava dizer: é óbvio que todo homem são aceita ou rejeita uma determinada afirmação não por querer, mas por haver provas que a confirmem ou refutem. Se ele se enganar sobre as provas, isso não fará dele um homem mau, apenas um homem não muito inteligente. Se ele achar que as provas indicam que a afirmação é falsa, e mesmo assim tentar acreditar nela, isso será mera estupidez.


Bem, ainda sou dessa opinião. O que eu não via então — e muita gente ainda não vê — é o seguinte : eu supunha que, a partir do momento em que a mente humana aceita algo como verdadeiro, vai automaticamente continuar considerando-o verdadeiro até encontrar um bom motivo para reconsiderar essa opinião. Na verdade, eu partia do pressuposto de que a mente é completamente regida pela razão, o que não é verdade. Vou dar um exemplo. Minha razão tem motivos de sobra para acreditar que a anestesia geral não me asfixiará e que os cirurgiões só começarão a operar quando eu estiver completamente sedado. Isso, porém, não altera o fato de que, quando eles me prendem na mesa da operação e me cobrem a face com sua tenebrosa máscara, um pânico infantil toma conta de mim. Começo a pensar que vou me asfixiar e que os médicos vão começar a cortar meu corpo antes que eu perca a consciência. Em outras palavras, perco a fé na anestesia. Não é a razão que me faz perder a fé: pelo contrário, minha fé é baseada na razão. São, isto sim, a imaginação e as emoções. A batalha se dá entre a fé e a razão, de um lado, e as emoções e a imaginação, de outro.


Quando você para para pensar, começa a lembrar de vários exemplos como esse. Um homem tem provas concretas de que aquela moça bonita é uma mentirosa, não sabe guardar segredos e, portanto, é alguém em quem não se deve confiar. Entretanto, no momento em que se vê a sós com ela, sua mente perde a fé no conhecimento que possuí e ele pensa: Quem sabe desta vez ela seja diferente, e mais uma vez faz papel de bobo com ela, contando-lhe segredos que deveria guardar para si. Seus sentidos e emoções destruíram-lhe a fé em algo que ele sabia ser verdadeiro. Ou tomemos o exemplo do garoto que aprende a nadar. Ele sabe perfeitamente bem que o corpo não vai necessariamente afundar na água: já viu dezenas de pessoas boiando e nadando. Mas a questão principal é se ele continuará crendo nisso quando o instrutor tirar a mão, deixando-o sozinho na água - ou se vai repentinamente deixar de acreditar, entrar em pânico e afundar.


A mesma coisa acontece no cristianismo. Não quero que ninguém o aceite se, na balança da sua razão, as provas pesarem contra ele. Não é aí que entra a fé. Vamos supor, entretanto, que a razão de um homem decida a favor do cristianismo. Posso prever o que vai acontecer com esse sujeito nas semanas seguintes. Chegará um momento em que receberá más notícias, terá problemas ou será obrigado a conviver com pessoas descrentes; nesse momento, de repente, suas emoções se insurgirão e começarão a bombardear sua crença. Haverá, além disso, momentos em que desejará uma mulher, sentir-se-á propenso a contar uma mentira, ficará vaidoso de si mesmo ou buscará uma oportunidade para ganhar um dinheirinho de maneira não totalmente lícita; nesses momentos, seria muito conveniente que o cristianismo não fosse a verdade. Mais uma vez, suas emoções e desejos serão artilharia pesada contra ele. Não estou falando de momentos em que ele venha a descobrir novas razões contrárias ao cristianismo. Essas razões têm de ser enfrentadas, e isso, de qualquer modo, é um assunto completamente diferente. Estou falando é dos meros sentimentos que se insurgem contra ele.


A fé, no sentido em que estou usando a palavra, é a arte de se aferrar, apesar das mudanças de humor, àquilo que a razão já aceitou. Pois o humor sempre há de mudar, qualquer que seja o ponto de vista da razão. Agora que sou cristão, há dias em que tudo na religião parece muito improvável. Quando eu era ateu, porém, passava por fases em que o cristianismo parecia probabilíssimo. A rebelião dos humores contra o nosso eu verdadeiro virá de um jeito ou de outro. E por isso que a fé é uma virtude tão necessária: se não colocar os humores em seu devido lugar, você não poderá jamais ser um cristão firme ou mesmo um ateu firme; será apenas uma criatura hesitante, cujas crenças dependem, na verdade, da qualidade do clima ou da sua digestão naquele dia. Consequentemente, temos de formar o hábito da fé.


O primeiro passo para que isso aconteça é reconhecer que os sentimentos mudam. O passo seguinte, se você já aceitou o cristianismo, é garantir que algumas de suas principais doutrinas sejam mantidas deliberadamente diante dos olhos de sua mente por alguns momentos do dia, todos os dias. É por esse motivo que as orações diárias, as leituras religiosas e a frequência aos cultos são partes necessárias da vida cristã. Temos de nos recordar continuamente das coisas em que acreditamos. Nem essa crença nem nenhuma outra podem permanecer vivas automaticamente em nossa mente. Têm de ser alimentadas. Aliás, se examinarmos um grupo de cem pessoas que perderam a fé no cristianismo, me pergunto quantas delas o terão abandonado depois de convencidas por uma argumentação honesta. Não é verdade que a maior parte das pessoas simplesmente se afasta, como que levadas pela correnteza?


Volto-me agora para a fé no seu segundo sentido, o mais elevado: será o assunto mais difícil de que terei tratado até aqui. Para abordá-lo, retorno ao tópico da humildade. Você há de se lembrar que eu disse que o primeiro passo em direção à humildade era dar-se conta do próprio orgulho. Acrescento agora que o segundo passo consiste em empenhar um esforço dedicado para praticar as virtudes cristãs. Uma semana não basta. As coisas vão de vento em popa na primeira semana. Experimente seis semanas. Até lá, depois de sucumbir e voltar à estaca zero, ou ter decaído para um ponto ainda inferior, teremos descoberto algumas verdades a respeito de nós mesmos. Nenhum homem sabe realmente o quanto é mau até se esforçar muito para ser bom. Circula por aí a ideia tola de que as pessoas virtuosas não conhecem as tentações. Trata-se de uma mentira deslavada. Só os que tentam resistir às tentações sabem quão fortes elas são. Afinal de contas, para conhecer a força do exército alemão, temos de enfrentá-lo, e não entregar as armas. Para conhecer a intensidade do vento, temos de andar contra ele, e não deitar no chão. Um homem que cede à tentação em cinco minutos não tem a menor ideia de como ela seria uma hora depois. Por esse motivo, as pessoas más, em certo sentido, sabem muito pouco a respeito da maldade. Na medida em que sempre se rendem, levam uma vida protegida. É impossível conhecer a força do mal que se esconde em nós até o momento em que decidimos enfrentá-lo; e Cristo, por ter sido o único homem que nunca caiu em tentação, é também o único que conhece a tentação em sua plenitude - o mais realista de todos os homens. Pois bem. A principal coisa que aprendemos quando tentamos praticar as virtudes cristãs é que fracassamos. Se tínhamos a ideia de que Deus nos impunha uma espécie de prova na qual poderíamos merecer passar por tirar boas notas, essa ideia tem de ser eliminada. Se tínhamos a ideia de uma espécie de barganha — a ideia de que poderíamos cumprir a parte que nos cabe no contrato e deixar Deus em dívida conosco, de tal modo que, por uma questão de justiça, ele ficasse obrigado a cumprir a parte dele —, ela deve ser eliminada também.


Creio que quantos possuem uma vaga crença em Deus acreditam, até se tornarem cristãos, nessa ideia da prova ou da barganha. O primeiro resultado do verdadeiro cristianismo é o de reduzir essa ideia a pó. Quando a veem reduzida a pó, certas pessoas chegam à conclusão de que o cristianismo é um embuste e dele desistem. Essa gente parece imaginar que Deus é extremamente simplório. Na verdade, ele sabe de tudo isso. Uma das intenções do cristianismo é justamente reduzir essa ideia a pó. Deus está à espera do momento em que você vai descobrir que jamais conseguirá tirar a nota mínima para passar nesse exame, e não poderá jamais deixá-lo em dívida.


Com isso vem outra descoberta. Todas as faculdades que você possui, sua faculdade de pensar ou de mover os membros a cada momento, lhe são dadas por Deus. Mesmo se dedicasse cada momento de sua vida exclusivamente ao seu serviço, você não poderia dar-lhe nada que, em certo sentido, já não lhe pertencesse. Logo, quando uma pessoa diz que faz algo para Deus ou lhe dá algo, é como se fosse uma criança pequena que interpelasse o pai e lhe pedisse: Papai, me dê cinquenta centavos para lhe comprar um presente de aniversário. E claro que o pai dá o dinheiro e fica contente com o gesto do filho. Tudo é muito bonito e muito correto, mas só um imbecil acharia que o pai lucrou cinquenta centavos com a transação. Quando o homem descobre essas duas coisas, Deus pode realmente começar a agir. E depois disso que a verdadeira vida começa. O homem agora está desperto. Podemos passar a discorrer sobre o segundo sentido da palavra fé.


Vou começar por dizer algo em que gostaria que todos prestassem a máxima atenção. E o seguinte. Se este. capítulo não significar nada para você, se ele der a impressão de procurar responder a perguntas que você nunca fez, largue-o imediatamente. Não se amofine por causa dele. Existem coisas no cristianismo que podem ser compreendidas mesmo por quem está de fora, por quem ainda não é cristão; existe, por outro lado, um grande número de coisas que só podem ser compreendidas por quem já percorreu um certo trecho da estrada cristã. São coisas puramente práticas, embora não o pareçam. São instruções de como lidar com certas encruzilhadas e obstáculos da jornada, instruções que não têm sentido até que a pessoa esteja diante deles. Sempre que você deparar com uma frase de um escrito cristão que você não seja capaz de compreender, não se aborreça. Deixe-a de lado. Virá um dia, talvez anos mais tarde, em que você subitamente entenderá o que ela queria dizer. Se não consegue entendê-la agora, é porque ela só lhe faria mal.


E claro que isso diz respeito não só aos outros, mas a mim também. O que tentarei explicar neste capítulo talvez esteja muito acima da minha compreensão. E possível que eu pense que já tenha chegado lá, mas na realidade não tenha. Só posso pedir aos cristãos instruídos que ouçam com muita atenção o que digo e me avisem se estiver errado; quanto aos outros, que aceitem com cautela o que for dito - como algo que ofereço por pensar que pode ajudar, não por ter a certeza de estar com a razão.


Estou tentando falar sobre a fé nesse segundo sentido, o mais elevado. Disse há pouco que essa questão surge no homem depois que ele tentou ao máximo praticar as virtudes cristãs, constatou-se incapaz e chegou à conclusão de que, mesmo que tivesse conseguido, não estaria oferecendo a Deus nada que já não lhe pertencesse. Em outras palavras, ele descobre que está falido. E bom repetir: o que importa para Deus não são nossas ações enquanto tais. O que lhe importa é que sejamos criaturas de determinado tipo ou qualidade — o tipo de criaturas que ele tencionava que fôssemos quando nos criou -, vinculadas a ele de uma determinada maneira. Não acrescento e vinculados uns aos outros, porque isso é uma consequência natural. Se você tem a atitude correta diante de Deus, inevitavelmente terá a atitude correta diante do próximo, da mesma forma que, quando os raios de uma roda estão bem encaixados no cubo e no aro, inevitavelmente guardam as distâncias corretas entre si. E, enquanto o homem concebe Deus como uma espécie de examinador que nos passa uma prova, ou como a outra parte numa espécie de barganha em que cada parte tem seus direitos e obrigações, não está ainda com a atitude correta diante de Deus. Não sabe nem o que ele é nem o que é Deus, e só poderá ter a atitude correta quando descobrir que está falido.


Quando digo descobrir, quero dizer exatamente isso: não é o mesmo que repetir palavras como um papagaio. Qualquer criança que tenha recebido a educação cristã mais elementar aprende rapidamente que o homem não tem nada a oferecer a Deus que já não seja dele, e que nem isso conseguimos oferecer sem surrupiar uma parte para nós. Mas estou falando de uma descoberta real, advinda da experiência pessoal.


Nesse sentido, só podemos descobrir que somos incapazes de cumprir a Lei de Deus depois de tentar cumpri-la com todas as nossas forças (e fracassar em seguida). Se não tentarmos, continuaremos pensando em nosso íntimo que, se nos esforçarmos mais na próxima vez, conseguiremos ser completamente bons. Assim, em certo sentido, a estrada que nos leva de volta a Deus é a do esforço moral, a via da auto superação. Mas, em outro sentido, não é o esforço que nos levará para casa. Toda a força que fazemos nos conduz ao momento crucial em que nos voltamos para Deus e lhe dizemos: O Senhor tem de fazer isso. Não consigo. Imploro que vocês não comecem a se perguntar: Será que já cheguei a esse momento? Não fique sentado esperando, observando a própria mente para ver se o momento está chegando. Isso o levará a tomar o bonde errado. Quando acontecem as coisas mais importantes da vida, nem sempre nos damos conta do que está ocorrendo. A pessoa não para de repente e diz para si mesma: Opa, estou crescendo! Em geral, é só quando olha para trás que percebe o que aconteceu e reconhece que é isso que as pessoas chamam de crescer. Isso pode ser notado até nos assuntos mais prosaicos. O homem que começa a querer saber se vai conseguir dormir ou não, com toda probabilidade vai passar a noite em claro. Além disso, o fenômeno de que estou falando pode não ocorrer de repente, como ocorreu com o apóstolo Paulo ou Bunyan. Pode se dar de forma tão gradual que ninguém consiga apontar uma hora específica, ou mesmo o ano em que aconteceu. O que interessa é a natureza da mudança em si, e não como nos sentimos quando ela ocorre. É a mudança do sentimento de confiança em nossos próprios esforços para um estado em que nos desesperamos completamente e deixamos tudo nas mãos de Deus.


Sei que as palavras deixar tudo nas mãos de Deus podem ser entendidas de forma errada, mas vamos deixá-las assim por enquanto. O sentido em que um cristão deixa tudo nas mãos de Deus é que ele deposita toda a sua confiança em Cristo: confia em que, de alguma forma, Cristo vai dividir sua obediência humana perfeita com ele, obediência que Cristo carregou consigo do nascimento à crucificação. Cristo fará do homem uma imagem de si, compensando, de certa forma, suas deficiências. Na linguagem cristã, ele repartirá a sua filiação, fará de nós filhos de Deus, como ele mesmo; no Livro IV, farei um esforço para analisar o significado dessas palavras com mais profundidade. Se lhe agrada colocar as coisas sob essa perspectiva, Cristo nos oferece algo por nada; na verdade, oferece tudo por nada. Num sentido, toda a vida cristã se baseia em aceitar essa oferta extraordinária. A dificuldade está em chegar ao ponto de reconhecer que tudo o que fazemos e podemos fazer se resume a nada. Gostaríamos que a coisa fosse diferente, que Deus contasse nossos pontos bons e ignorasse os ruins. Ou senão, num certo sentido, podemos dizer que nenhuma tentação pode ser superada se não desistirmos de superá-la - se não jogarmos a toalha. Por outro lado, ninguém poderia parar de tentar da forma correta e pelas razões corretas se antes não tentasse com todas as suas forças. E, num outro sentido ainda, é claro que deixar tudo nas mãos de Cristo não significa que devemos parar de nos esforçar. Confiar nele significa tentar fazer tudo o que ele disse. Não há sentido em dizer que confiamos em tal pessoa se não aceitamos seus conselhos. Logo, se você realmente se entregou nas mãos dele, conclui-se daí que está tentando obedece-lhe. No entanto, está tentando de uma forma nova, menos preocupada. Não está fazendo essas coisas para ser salvo, mas porque ele já começou a salvá-lo. Não está esperando ganhar o Paraíso como recompensa das suas ações, mas quer inevitavelmente agir de uma determinada forma porque já tem dentro de si os primeiros e tênues vislumbres do Paraíso.


Os cristãos sempre tiveram o costume de polemizar sobre o que conduz o cristão à sua morada: se as boas ações ou se a fé em Cristo. Na verdade, não tenho o direito de falar sobre um assunto tão difícil, mas me parece que é como perguntar qual das lâminas de uma tesoura é a mais importante. O esforço moral sério é a única coisa que pode nos conduzir ao ponto de jogar a toalha. A fé em Cristo é a única coisa que pode nos salvar do desespero nesse ponto: e, dessa fé, é inevitável que surjam boas ações. No passado, alguns grupos cristãos acusaram outros grupos cristãos de parodiar a verdade de duas formas. O exagero das situações talvez ajude a tornar a verdade mais clara. Um dos grupos era acusado de dizer: As boas ações são tudo o que interessa. A melhor das boas ações é a caridade. O melhor tipo de caridade é dar dinheiro. A melhor forma de dar dinheiro é fazer uma doação para a Igreja. Logo, faça uma doação de 10.000 libras e garantiremos sua entrada na vida eterna. A resposta a esse absurdo é que as ações feitas com essa intenção, com a ideia de que o Paraíso pode ser comprado, não são boas ações de forma alguma, mas somente especulações comerciais. Outro grupo era acusado de dizer: A fé é tudo o que importa. Logo, se você tem fé, não importam as suas ações. Peque à vontade, meu filho, divirta-se a valer, que para Jesus Cristo não vai fazer a mínima diferença no final. A resposta a esse absurdo é que, se o que você chama de fé em Cristo não implica dar atenção ao que ele disse, ela não é fé de maneira alguma — nem Fé nem confiança, mas apenas a aceitação mental de alguma teoria a seu respeito.


A Bíblia encerra a discussão quando junta as duas coisas numa única sentença admirável. A primeira metade diz: Ponham em ação a salvação de vocês com temor e tremor - o que dá a ideia de que tudo depende de nós e de nossas boas ações; mas a segunda metade complementa: Pois é Deus que efetua em vocês tanto o querer quanto o realizar - o que dá a ideia de que Deus faz tudo e nós, nada. Esse é o tipo de coisa com a qual nos defrontamos no cristianismo. Fico perplexo, mas não surpreso. Veja você, estamos tentando compreender e separar em compartimentos estanques o que Deus faz e o que o homem faz quando se põem a trabalhar juntos. É claro que a nossa concepção inicial desse trabalho é a de dois homens que atuam em conjunto, de quem poderíamos dizer: Ele fez isto e eu, aquilo. Porém, essa maneira de pensar não se sustenta. Deus não é assim. Não está só fora de você, mas também dentro: mesmo que pudéssemos compreender quem fez o quê, não creio que a linguagem humana pudesse expressá-lo de forma apropriada. Na tentativa de expressar essa verdade, as diferentes igrejas dizem coisas diversas. Você há de constatar, porém, que mesmo as que mais insistem na importância das boas ações lhe dirão que você precisa ter fé; e as que mais insistem na fé lhe dirão para praticar boas ações. Neste assunto, não me arrisco a ir mais longe. • Creio que todos os cristãos concordariam comigo se eu dissesse que, apesar de o cristianismo, num primeiro momento, dar a impressão de só se preocupar com a moral, com deveres, regras, culpa e virtude, ele nos leva além, para fora de tudo isso e para algo completamente diferente. Vislumbramos então um país cujos habitantes não falam dessas coisas, a não ser, talvez, como piada. Todos eles são repletos do que chamaríamos de bondade, como um espelho é repleto de luz. Eles mesmos, porém, não chamam isso de bondade. Não o chamam por nome algum. Não pensam a respeito desse assunto, pois estão ocupados demais em contemplar a fonte de onde isso provém. Mas nos aproximamos aí do ponto em que a estrada cruza o limiar deste nosso mundo. Nenhum olhar pode enxergar muito além disso; muitos olhares podem enxergar bem mais longe que o meu.

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