O Temperamento Colérico e o Temperamento Sanguíneo
- MINISTÉRIO RESGATE
- 3 de abr. de 2020
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O Temperamento Colérico
O colérico tem a característica da forte sensibilidade receptiva e reação forte. É o tipo da personalidade marcante, do homem vigoroso, conhecedor do mundo, da índole enérgica do líder e do combatente.
Reconhece-se a disposição do temperamento colérico muitas vezes até pelo aspecto exterior. O colérico tem físico vigoroso, maciço, de ombros largos, músculos fortes e nervos duros. A expressão do rosto é séria, o olhar cortante e penetrante, às vezes apaixonado. A boca de lábios finos fica rigorosamente cerrada. O passo é firme e seguro, a voz forte e harmoniosa.
O colérico, se de talento superior à média, possui intelecto claro. Capta logo a essência de um fato. Não fica na superfície, mas atira-se com ardor para o fundo. Isso não o impede de passar por cima do secundário, não ligar para os sentimentos pessoais alheios e não demonstrar a mínima compreensão pelos estados de ânimo e sentimentos deles; é por isso que se torna com facilidade bruto e ofensivo. A vontade é forte e resoluta. Procura colocar em prática o que se propõe e atingi-lo a todo o custo. Na atuação de um ideal escolhido, custa a satisfazer-se até com o máximo. É capaz de entusiasmar-se ardentemente por tudo o que é belo e sublime. O grande e o heroico o incitam. Está pronto a empenhar-se com esforço heroico e combatividade por uma causa elevada e ideal. Sua virtude eminente é a magnanimidade. A natureza o leva à luta. A ação e o sucesso são a sua meta. Além disso, está cheio de acentuada ambição, que o leva com facilidade a arrivismo sem medidas. A força cresce com a grandeza da tarefa. Não conhece complexos de inferioridade.
É otimista impertérrito, mesmo quando a reflexão e a calma deveriam convencê-lo que, em determinado caso, a meta escolhida é inatingível. Confia sempre e em toda a parte na força e na capacidade do eu. Tem por lema: ou dobrar ou quebrar. Por ter muito sucesso, reforçam-se ainda mais as aspirações, e por isso aventura-se também ao que é impossível. Odeia a mediocridade, o meio-termo. Tudo o que faz, faz completamente. Move-se entre os extremos e quer ou tudo ou nada. Traz em si o germe do santo ou do delinquente. Para atingir o seu escopo serve-se de todos os meios. Pode ser duro e insensível, cruel e brutal. Pode mentir e fingir, adular e tiranizar. Para o alto é capaz de reverências, para o baixo é capaz de pisar. Tudo existe para o seu bem-amado eu. Custa-lhe reconhecer as obras e os sucessos dos outros, que olha com inveja, como atos que prejudicam a própria capacidade, dignidade e proeminência. Ai de quem se lhe opõe! É ele que deve dominar, comandar, organizar, pois só ele possui a habilidade necessária. Sempre tem razão, mesmo quando no íntimo, já há muito tempo, reconheceu ter disparado com audácia imprudente contra o objetivo. Não reconhece que a razão possa encontrar-se, pelo menos uma vez, também do lado do adversário. Impedem-no o orgulho, a ambição e presumida infalibilidade.
Esse orgulho indomável é o maior obstáculo à sua santificação. Gera nele confiança exagerada em si mesmo e obstinação infantil pluriforme, que raramente respeita a opinião dos outros; antes, fala mesmo com desprezo, do juízo e dos pareceres alheios e ofende muita vez os adversários com o sarcasmo e a zombaria. A soberba lhe impede amor para com Deus, o próximo, e toda a criação. Tem em si a fonte da própria hipersensibilidade, prepotência, do espírito de contradição, dureza, incompatibilidade de caráter e cólera, às vezes tão forte, que lhe faz perder completamente o domínio de si, levando-o a erros gravíssimos com um sorriso frio nos lábios, a desprezar sem consideração os laços de velhas amizades e arriscar, com leviandade, a saúde e a vida. O orgulho lhe tira a faculdade de inclinar-se, de adaptar-se e submeter-se, obedecer, estender a mão ao adversário em sinal de reconciliação. A vaidade egoísta torna-o inapto para a compreensão cordial e para comungar com o estado de ânimo de outro ser humano, a compaixão amorosa diante da dor alheia e a bondade de coração no contato com os pobres e necessitados. Quantas vezes por dia pecam contra a caridade com o pensamento e com as obras, sem nem sequer percebê-lo! Quando, po rém, com o auxílio da graça divina, o colérico resolve corrigir-se, aperfeiçoar-se, santificar-se, quando aprende a conhecer e reconhecer os próprios limites e a própria dependência, a inclinar-se humildemente diante de Deus; quando chega ao ponto de se alegrar logo que Deus o subjuga e aniquila nele todo o egocentrismo, então o temperamento torna-se ponto de apoio na subida para a santidade; então a ambição e anseio de sobressair empenham-se por tornarem-se agradáveis aos olhos de Deus, em produzir algo imponente para o reino de Jesus Cristo. O colérico zeloso, que se autocastiga e autodisciplina, é líder nato. Empenha-se por um ideal com calor e força de persuasão. É herói por nascimento. É homem do dever, que não concede escapatórias a si mesmo, que não se deixa desviar das decisões tomadas, que não descansa antes de atingir o alvo predeterminado. Assim, este temperamento oferece muitas vantagens e auxílios ao homem lutador, que se dirige para o alto ao atingir a própria santidade, como também, por outro lado, se erra a estrada, pode torná-lo propugnador fanático do mal, sujeito a vaidade satânica, ódio indomável e fúria bestial. A vida de oração do colérico não apresenta dificuldades especiais. As forças espirituais tornam-no apto ao recolhimento e à concentração interior. O desejo constante de expansão ilimitada é satisfeito pelo empenho ininterrupto e total por Deus e por sua causa. O colérico que tem em vista a perfeição fica agradecido quando lhe apontam os defeitos. Procura emendar-se. Nas relações com o próximo luta para fundir a veracidade com a delicadeza. Coloca toda a honra na conduta de vida ilibada. O colérico engenhoso tem atuação notável no trabalho profissional. A disposição natural incita-o à atividade incessante. Não pode viver no ócio. Deve trabalhar sempre e ocupar-se sempre. Não é capaz de deixar um trabalho pela metade. Deve terminá-lo completamente. Não suporta a desordem. Gosta da limpeza, da consciência escrupulosa, da pontualidade. Tem sempre o que fazer. Nunca tem tempo para o inútil, mas sempre o tem par a o necessário. Descobre trabalho onde outros não o vêem. Não pode descansar , enquanto há trabalho por fazer. Olha sempre para a frente, reflete, calcula. Por isso consegue sempre acrescentar às tarefas, já numerosas, novo trabalho, graças à capacidade organizadora, à rapidez da ação, à circunspeção e habilidade. É claro, breve e decidido no falar. O que diz deve estar simplesmente certo (mesmo que não o esteja). Na conduta e no modo de proceder é independente, ousado, sem sombra de temor. Tem a faculdade de persuadir os outros, de convencer, de influenciar e de guiar, de tornar-se sustentáculo e apoio, de deixar a própria marca no ambiente inteiro. Além disso, parece tão certo e inequivocável que ninguém pode resistir-lhe, salvo o que for da sua mesma têmpera. É o tipo do chefe, do educador, da pessoa de autoridade.
O importante é que o colérico procure desenvolver seus lados bons e atenuar os piores. Precisa de um ideal claro: serviço de Deus por amor a Deus, amor ao próximo por amor a Deus. É preciso apresentar-lhe de ais altos para poder empenhar as próprias forças. Deve aprender a mendigar com humildade o auxílio de Deus e lutar com toda a energia contra a cólera, o orgulho e outras expressões do temperamento. Deve educar-se espontaneamente ao serviço do próximo. Se for capaz, será também capaz de executar grandes obras para o, reino de Deus. Será o apóstolo nascido para o reino de Cristo. Se o colérico educa a si mesmo sob a influência de personalidade forte que consegue o reconhecimento e a estima dele, ajudado pela graça divina, implorada com a oração humilde, pode chegar a idealismo nobre que lhe dá impulso a tender sempre mais para o alto, otimismo invencível que não o deixa desesperar nunca, mas sempre esperar, radicalismo inflexível que o leva a gastar todas as energias a fim de atingir o alvo predeterminado.
O obreiro do Senhor de temperamento colérico obterá com facilidade a estima dos fiéis, com mais dificuldade o amor. Suas ações terão sucesso. Todavia deverá absterse de disciplina rígida para não ser arrasta do pela dureza inata de trato. Deve vigiar a si mesmo e tender com o máximo empenho ao amor verdadeiro, pois, de outra forma, será levado pelo temperamento a cometer atos de dureza. Muitos desses atos nem sequer perceberá, por causa falta inata de ternura e delicadeza. Deve também tender incessantemente à verdadeira humildade de coração e reconhecer que também é servo inútil diante de Deus, apesar do engenho e dos dotes. Malgrado todo o esforço, o obreiro do Senhor colérico será mais estimado que amado pelos fiéis. Serve-lhe de admoestação permanente para tender ao amor, e também de contínua escola de humildade.
O Temperamento Sanguíneo
As características do temperamento sanguíneo são a vivacidade e a volubilidade. Explica-se com a forte sensibilidade receptiva, ligada a reação fraca.
O aspecto trai logo o sanguíneo. Em geral é esbelto, agradável e de físico elegante. Possuí sistema nervoso vivaz, facilmente excitável.
Os olhos são vivos e móveis, o passo veloz, mas um tanto incerto. Falta-lhe o comportamento enérgico. A atitude exprime grande agilidade e vivacidade, às vezes exuberância sentimental.
O sanguíneo possui o sentimento acentuado para a exterioridade, isto é, para tudo o que pode perceber por meio dos sentidos. Embora também tenha espírito ativo e ardente, é-lhe difícil concentrar a mente sobre objeto preciso, dirigir a vontade com perseverança para alvo fixo. É esteta por nascimento, deleitando-se com as formas belas e agradáveis à vista. A seus olhos, que nunca estão parados, dificilmente escapa menor detalhe. Vê todos os movimentos, mesmo os que não devem. Escuta qualquer observação, mesmo se não se lhe destina ao ouvido, toma parte em todas as conversas e sempre quer intervir mesmo se não entende nada do tema. Na sua leviandade ousa atirar-se a qualquer empresa, antes mesmo de tê-la avaliado suficientemente. Vice-versa, falta-lhe a faculdade de terminar o empreendimento começado, também porque não dispõe de resistência tenaz e de perseverança. Tem sentimentos ternos e ardentes. Com facilidade deixa-se dominar pela disposição de ânimo. Tende à exaltação e exagero. Nem o elogio nem a desaprovação que formula devem tomar-se muito a sério. Acha tudo divino, magnífico, maravilhoso. Entusiasma-se com facilidade. Mas, com mais facilidade ainda deixa-se induzir a jogar fora as armas por qualquer pequeno insucesso ou crítica severa. À sua natureza corresponde concepção alegre de vida, superficial, muitas vezes até leviana. Nada considera pelo lado trágico. O riso e o pranto alternam-se com facilidade. Está sempre em contato com o próximo. É o homem de sociedade por excelência, que não encontra dificuldade em frequentar os homens, sendo por isso bem-visto e amado.
O sanguíneo encontra no caminho para a santidade, devido ao temperamento, não poucos empecilhos. A índole inconstante, um pouco inclinada à leviandade, causa-lhe dificuldades no progresso espiritual. Passa depressa sobre o que é profundo. Considera aborrecido tudo quanto exige fadiga, sacrifício, renúncia, mortificação.
Pensa antes de tudo em ocupar-se com os sentidos e satisfazê-los. No trabalho procura a variedade, gosta de companhia e divertimento. Contenta-se com meiasmedidas e superficialidade. Muito cheio de si, é suscetível ao louvor, até à adulação, mas sente-se desmoralizado pela censura e repreensão. Vaidoso e ávido de prazeres, gosta muito de comer e beber bem, preocupa-se muito com o modo de trajar, com o lugar onde mora e todos os outros gozos da vida. Deixa-se fascinar com facilidade pelo que é vistoso, é presa fácil dos próprios humores e sentimentos, caprichos e inclinações. Por sua natureza é vaidoso e volúvel, esquece-se de boa vontade qualquer preocupação e corre o perigo de entregar-se aos prazeres vulgares. Quer participar de tudo, estar presente em toda parte. Sendo de índole curiosa e loquaz, para não dizer linguareiro, confia em todo o mundo; com dificuldade guarda os próprios segredos. Revela tendência acentuada para a exaltação e os prazeres eróticos. Brinca levianamente com os pecados mais graves, é muito fácil fazê-lo mudar de rumo e corrompê-lo. É-lhe difícil o recolhimento, a solidão no silêncio, na oração e mortificação. Tende mais para o ciúme, para a ostentação vazia. Na loquacidade não dá muito valor à verdade. Também a vanglória e a vileza podem induzi-lo à mentira. Exagera muita vez e de boa vontade. Quando faz qualquer narração, tudo exagera. Tem opinião excelente de si próprio. julga-se seriamente o mais inocente do mundo. A luta principal deveria ser contra a paixão sensual. Tomando a sério essa luta e a estrada da perfeição, encontrarão no próprio temperamento muita matéria para o domínio de si mesmos, para a renúncia, sacrifício e combate incessante contra o próprio eu.
O temperamento sanguíneo apresenta, apesar disso, também vantagens do ponto de vista moral e religioso. Até a volubilidade do sanguíneo pode tornar-se bênção, se for da mesma forma inconstante no pecado. Sua cólera dura pouco, não conserva rancor; e o mesmo se aplica às relações com Deus. Uma vez de acordo com Deus não ficará nunca muito tempo separado dele. Seu sentimento conduz à reparação. Muitas vezes, naturalmente, também não passa de fogo de palha. O arrependimento não é bastante profundo, às vezes permanece somente na superfície. No entanto, é suscetível de correção e aceita com facilidade as observações como, de sua parte, possui grande capacidade para corrigir os outros sem que fiquem ressentidos. A cólera é superada com a mesma rapidez com que se apodera dele. No trato com os homens mostra-se serviçal, condescendente, gentil. É capaz de comover-se e adaptar-se. Compartilha das dores e alegrias alheias. Sabe brincar e rir, consolar e animar. Além disso, é franco e cândido, e por isso ninguém fica zangado com Ele. Se conseguir vencer a antipatia e simpatia às vezes muito pronunciadas, que lhe dominam as relações com o próximo, esforçando-se para elevar-se a amor purificado, espiritualizado, sobrenatural, as relações com os homens tornar-se-ão fáceis e encontrará o modo de tornar-se tudo para todos, em amor sereno e desinteressado.
Para a auto-educação deve criar princípios claros e segui-los. Deve adquirir profundeza maior, pesquisar tudo inteiramente, aspirar à verdadeira virtude e severidade da vida. Deve considerar-se feliz se encontrar um amigo verdadeiro que lhe fique ao lado, que o livre de precipitações inconsideradas e de todas as irreflexões. Deve trabalhar constantemente para a consolidação do caráter. Deve temperar a vontade e obrigar o intelecto a ocupar-se do que é sério. Desse modo conseguirá avançar na perfeição; tornar-se-á bom, gentil, sempre amigo, trazendo para os outros apenas alegrias.
O obreiro de temperamento sanguíneo com facilidade tornar-se-á prático e conseguirá sucesso especialmente na direção espiritual da juventude. O temperamento dos meninos e de muitos jovens, como sabemos, é acentuadamente sanguíneo, justamente pela personalidade amável, radiante e serena conquistará depressa o amor em seu ambiente, reanimará e alegrará não poucas almas sofredoras e árduas. Deve evitar, porém, que a alegria se torne exagerada e seja causa de desilusões para os que procuram nele profundeza espiritual, pois de outra forma não o tomarão mais a sério, nem o considerarão como pessoa digna de confiança. Deve aprender a sentir a vida espiritual alheia e não medir todos os outros com a unidade da própria volubilidade, justamente o obreiro sanguíneo deve submeter-se a autodisciplina severa, se não quiser perder a mais delicada das atividades sacerdotais, a capacidade de dirigir almas.
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